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RUY CASTRO
Aviões vs. obesos
RIO DE JANEIRO - Algumas empresas aéreas internacionais, todas
operando no Brasil, decidiram obrigar os passageiros obesos a ocupar
uma poltrona extra em seus voos
lotados e a pagar por ela. Portanto,
se você tiver 120 kg ou mais, abra o
olho: pode ter de morrer em dobro
nos voos dessas companhias. Não
quer dizer que as pessoas que pesam 50 kg ou menos possam pagar
meia passagem desde que só ocupem meia poltrona.
A perseguição aos obesos é cruel.
Sugere que o cidadão seja obeso
porque quer, donde precisa ser punido. Esta é a civilização do cheeseburger, da pizza, da batata frita, dos
refrigerantes, dos doces e dos achocolatados -mas os cânceres, as
doenças cardíacas e a obesidade,
provenientes do estímulo full-time
ao paladar infantil da humanidade,
têm culpados individuais.
Um dos argumentos das empresas aéreas é o de que o obeso incomoda o passageiro ao lado, o que faz
com que as pessoas vivam reclamando. Pois reclamariam menos se
as empresas não diminuíssem covardemente a largura de suas poltronas e a distância entre elas, para
ter mais poltronas na aeronave. Em
alguns aviões, mal se consegue
abrir a bandejinha -a barriga, por
menor que seja, impede que ela fique no plano. E, em outros, o cinto,
muito curto até para ventres padrão standard, não fecha de jeito
nenhum.
No Brasil, por enquanto, ainda é
rara a presença de dois ou três obesos em um mesmo vôo -a média é
de um ou menos. Custaria às empresas liberar o uso das duas poltronas pelo preço de uma? Pela taxa de
ocupação desses voos hoje em dia,
com a maioria dos aviões já voando
comparativamente vazios, o prejuízo seria insignificante.
Um obeso a bordo não incomoda
mais do que os paletós com ombreiras de certos passageiros ou gente
que entra no avião trazendo mochilas ensebadas ou berimbaus.
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