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Valores esquecidos
Embora fundamentais para o país, princípios da Lei de Responsabilidade Fiscal são negligenciados pelo governo federal
O ANIVERSÁRIO de dez
anos da Lei de Responsabilidade Fiscal
(LRF) tem motivado
bem-vindas reflexões sobre as finanças públicas. O momento é
propício, por dois motivos.
O primeiro é a deterioração
das contas na esfera federal. O
segundo é o fato de a eleição para
a Presidência oferecer uma
oportunidade para discutir aperfeiçoamentos no campo fiscal e
orçamentário.
Ao lado do regime de metas de
inflação e do fim de algumas restrições externas importantes, a
LRF é uma das causas do bom
desempenho da economia brasileira nos últimos anos. Trata-se
de uma elogiável tentativa de regrar os vários níveis da administração com o estabelecimento de
limites para itens como gastos
com pessoal, criação de despesas
e endividamento.
Mas essa conquista se vê agora
ameaçada por práticas temerárias, como abusos na dedução de
despesas de investimento do cálculo da meta de superavit primário (a economia de recursos com
vistas ao pagamento dos juros da
dívida pública).
É preocupante que o governo
pretenda deixar de contabilizar
para este efeito todas as despesas
classificadas como integrantes
do PAC -algo que só enfraqueceria o controle fiscal.
Também impressionam a naturalidade com que se mudam
critérios para criar receitas e a
multiplicação dos exemplos de
contabilidade criativa. O mais recente deles veio com a Medida
Provisória 447, que permite ao
governo federal utilizar o chamado fundo soberano para capitalizar estatais, mais uma vez
sem afetar o superavit primário
(o objetivo do momento é reforçar o caixa do Banco do Brasil).
Trata-se de um desvio em relação às finalidades do fundo, entre as quais está o uso de recursos gerados pelo superavit para
comprar dólares e evitar a excessiva valorização do real.
Em nome do combate aos efeitos recessivos da crise financeira
internacional, a União sentiu-se
autorizada, nos últimos meses, a
aumentar ainda mais seus gastos. E o fez sem comedimento. É
hora de um ajuste. O projeto de
lei de responsabilidade orçamentária em tramitação no Congresso vai nesta direção ao prever, entre outras medidas, um
comitê técnico para elaborar e
acompanhar o Orçamento da
União. Seria uma ruptura com o
modelo atual de barganha, no
qual o Executivo esconde receitas e o Legislativo as infla para
acomodar emendas, muitas delas questionáveis.
Segundo a proposta, por meio
de critérios objetivos seria reduzido o número de pleitos de parlamentares a serem encaminhados. Um processo orçamentário
mais transparente e rigoroso representará um avanço na gestão
das finanças públicas -e contribuirá para revigorar valores da
LRF que vão sendo negligenciados pela atual gestão.
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