São Paulo, quinta-feira, 06 de maio de 2010

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KENNETH MAXWELL

"Cleggmania" e "bigotgate"

O ELEITORADO britânico vota hoje. Os conservadores parecem a caminho de conquistar o maior número de votos. Os trabalhistas, depois de 13 anos no poder, devem perder a sua maioria. Os liberais democratas se saíram muito melhor do que qualquer pessoa poderia prever.
Naquela que se tornou uma das mais disputadas eleições na história recente do país, o resultado aparentemente será definido por um pequeno número de distritos na região de Midlands e no norte da Inglaterra, onde o Partido Trabalhista deve perder assentos para os liberais democratas.
A eleição trouxe certos elementos novos, que merecem menção. A mudança mais significativa foi a ascensão de um terceiro partido confiável. Depois de 1918, os liberais viveram confinados, à margem do poder político, embora ocasionalmente contestassem as ortodoxias dos dois grandes partidos políticos.
Neste ano, liderados por Nick Clegg, se tornaram uma grande força e podem se ver no papel de fiel da balança quando os resultados finais forem tabulados.
O Partido Trabalhista, liderado por Gordon Brown, não se saiu bem, e seus infortúnios são exemplificados pelo caso de Gillian Duffy. O primeiro-ministro se encontrou por acaso com Duffy, eleitora trabalhista (ex), e o resultado foi catastrófico para Gordon Brown. Duffy é viúva e aposentada e questionou Brown minuciosamente sobre diversas questões, entre as quais a imigração.
Em público, Brown respondeu de maneira polida, mas, ao retornar à sua limusine oficial, se esqueceu de que ainda estava portando um microfone ativo e criticou a sua equipe por permitir que o encontro tivesse acontecido, definindo Duffy como "uma mulher intolerante" [bigot].
O primeiro-ministro correu a se desculpar diante de Duffy depois que a gravação se tornou pública. Mas o estrago estava feito. Era exatamente aquilo de que o público havia sempre suspeitado: platitudes para a imprensa e insultos longe das câmeras. Pesquisas apontam que 24% dos eleitores trabalhistas se dizem influenciados pelo acontecido.
O Partido Conservador está em vantagem, mas David Cameron, seu líder, vem enfrentando dificuldades para manter a liderança. Ele apoia o Estado de bem-estar social e projeta uma imagem de moderação. No entanto, os eleitores trabalhistas desconfiam profundamente dos conservadores.
Talvez Cameron vença. Mas a atual eleição, sem dúvida, será muito mais lembrada pela "Cleggmania" e pelo "bigotgate".


KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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