|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
Cinema e saúde
RIO DE JANEIRO - Considerado
hoje como a sétima arte, o cinema
teve origem mais modesta, quando
foram projetadas, na parede de um
prédio em Paris, algumas cenas da
chegada de um trem a Vincennes.
Pouco depois, outras cenas documentais foram exibidas: a entrada
de operários numa fábrica e um sujeito fazendo ginástica no jardim de
sua casa.
Na melhor das hipóteses, a brincadeira tinha tudo para se transformar numa atração dos parques de
diversão, circos e mafuás. Somente
aos poucos a nova linguagem transformou-se em vocábulos capazes de
contar uma história, fazer um protesto, tornar-se uma arte que mistura romance, poesia e crítica.
Por isso mesmo, além de se tornar uma expressão de arte, o cinema é também um poderoso veículo
de informação em todos os campos,
sobretudo no da saúde. Basta lembrar a campanha de esclarecimentos sobre a qualidade de vida, a necessidade da camisinha e dos exames precoces para combater o
câncer.
Devo ao cinema alguns momentos que tomei como referência de
minha vida pessoal e profissional
de escritor. Devo também ao cinema o alerta que me levou a um especialista que operou as minhas
cordas vocais.
O filme contava a história de uma
cantora que estava perdendo a voz e
que se recuperou após uma cirurgia. Mesmo sem ser cantor, lucrei
bastante quando voltei a falar normalmente, embora nem sempre tenha sido entendido.
Felizmente, ganho a vida com palavras escritas. Se fosse depender
da fala, estaria vivendo na pior, debaixo de um viaduto e coberto por
folhas de jornal -como aquele personagem que Noel Rosa eternizou.
Esse problema, que me acompanha desde a infância, é responsável
por vexames que dei ao longo da vida. Não é culpa do cinema nem da
medicina. É minha mesmo.
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: Goela abaixo Próximo Texto: Kenneth Maxwell: "Cleggmania" e "bigotgate" Índice
|