São Paulo, domingo, 06 de junho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Tabagismo: um alerta aos jovens

D uas boas notícias na área do tabagismo. A primeira é que está caindo o número de fumantes no Brasil. A segunda é que os fumantes remanescentes poderão ser tratados pelo Sistema Único de Saúde -o SUS.
A Folha de 1º de junho de 2004 deu um grande e adequado destaque aos resultados de uma pesquisa que, apesar de ter algumas limitações metodológicas para comparações precisas, mostrou que, nos últimos 15 anos, a proporção de brasileiros que fumam caiu para menos da metade em várias capitais do país. É um dos fatos mais auspiciosos.
Em 1989, quase um terço dos brasileiros fumavam. Hoje essa proporção caiu para 17% em média nas capitais pesquisadas. Em Natal ela é de 15%, e em Aracaju, de menos de 13%. Os dados mostram que, com empenho e deliberação, 50% dos fumantes pararam de fumar.
O mesmo estudo, porém, mostrou um crescimento do consumo de cigarros entre crianças e adolescentes. Em várias capitais, cerca de 70% dos jovens começam a fumar entre 10 e 12 anos de idade.
Para eles, o acesso aos cigarros tornou-se mais fácil, pois podem ser comprados -avulsos- de colegas de escola, de camelôs e até mesmo em bares e em lojas.
Esse é o lado ruim da história, porque está mais do que provado que o cigarro é um dos maiores causadores de doenças evitáveis. No Brasil, morrem 200 mil pessoas por ano devido às doenças do fumo. É uma perda irreparável, que se soma à perda de recursos que são destinados para tratar dos doentes do fumo, desviando recursos para o tratamento de outras doenças que não podem ser tão facilmente evitadas.
Mas é animador verificar que, depois de ter apresentado um recorde mundial (reconhecido pela Organização Mundial da Saúde, a OMS) nas campanhas de combate ao fumo, aliás, intensificadas pelo ex-ministro da Saúde José Serra e mantidas pelo ministro Humberto Costa, o governo decidiu dar mais um passo importante -o de tratar os fumantes com procedimentos de eficácia comprovada para que abandonem esse vício fatal.
Nesse campo, o Brasil é exemplo mundial. No mundo, morrem cerca de 10 milhões de pessoas por ano devido ao tabagismo. Segundo estimativas da OMS, os países gastam cerca de US$ 30 bilhões todos os anos para tratar das doenças do fumo.
Muitos usam o surrado argumento de que a indústria de cigarros gera muitos empregos e recolhe impostos gigantescos aos cofres públicos, mas é preciso meditar sobre tais argumentos. Em primeiro lugar, é bom lembrar que grande parte dos que plantam e colhem o fumo é composta por pessoas que trabalham em condições precárias e com um curto horizonte de vida para si e para seus filhos. Em segundo lugar, convém salientar que, por maiores que sejam os benefícios trazidos pela indústria do cigarro, nada paga a perda e o sofrimento de milhões de seres humanos e o encaminhamento precoce de crianças para esse triste vício.
Essa é uma área em que a equação custo-benefício tem de ir bem além dos números frios e deve incluir elementos de humanismo e de fraternidade. Afinal, o que está em jogo é a vida e a saúde das pessoas.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


Texto Anterior: Rio de Janeiro - Claudia Antunes: Um elo perdido
Próximo Texto: Frases

Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.