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CLAUDIA ANTUNES
Um elo perdido
RIO DE JANEIRO - Quando foi que o Brasil se perdeu? Há muitas respostas
possíveis para essa pergunta sobre as frustrações das promessas de um futuro brilhante para o gigante em berço esplêndido, e uma delas pode ser o
momento em que a parcela mais
afluente da classe média deixou passar a oportunidade de compartilhar
com o povo mais pobre ou remediado
os bancos das escolas primárias e os
leitos dos hospitais.
Até meados do século passado, a
miséria mais feia era um fenômeno
concentrado no campo. O analfabetismo era imenso e muitos pobres das
cidades viviam como agregados das
famílias bem de vida ou nem tanto.
Os pais e avós da atual elite urbana
estudaram em colégios públicos; as
mulheres queriam ser professoras,
carreira de prestígio.
Depois, o desenvolvimento industrial e a urbanização criaram expectativas nos recém-apresentados à
prosperidade. A universalização da
educação e da saúde tornou-se uma
necessidade social e política.
Mas a classe média foi seduzida pelo segregacionismo. Rendeu-se prazerosamente à educação particular, ao
plano privado. Despreocupou-se da
coisa pública em troca de privilégios
como pôr seus filhos nas melhores
universidades (em geral públicas),
obter os melhores empregos (incluindo os oferecidos pelo Estado) e não
ser levada às celas das penitenciárias
onde seriam jogados aos milhares os
que ficavam para trás.
O Brasil não construiu um patamar
mínimo comum a partir do qual o
acesso às oportunidades seria mais
democrático. Agora, a fatia da população espremida entre os muito ricos
e a grande maioria reclama porque a
saúde privada não banca os tratamentos caros e sofisticados e chia
porque pretende-se instituir nas universidades cotas para alunos do ensino médio público, onde estão matriculados mais de 80% dos adolescentes. Sofre, também, por pagar impostos cada vez mais pesados sem usufruir do que é feito deles, porque abdicou de cobrar no passado.
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