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Editoriais
Fatos e suspeitas
Revelações em torno do caso Alstom exigem investigação rigorosa, que o PSDB bloqueia com arrogância e impavidez
É O KIT dos petistas em
atuação. Assim reagiu o
governador de São Paulo,
José Serra, diante das
reações que o caso Alstom começa a provocar no ambiente político. Não que seu partido, o PSDB,
seja contrário a investigar as suspeitas de irregularidade nos contratos da multinacional francesa
com o Metrô e a Eletropaulo.
Não, de jeito nenhum. Serra
prontificou-se a cooperar com as
investigações, "se mais informações aparecerem, porque até hoje não apareceram".
Num raro exemplo de convergência na cúpula peessedebista,
o ex-governador Geraldo Alckmin acompanhou os trilhos da
argumentação de seu notório rival. "Você tem suspeitas. Qual é o
fato? Eu acho que nós vivemos
um período em que se quer confundir a opinião pública."
Confunde-se a opinião pública,
é certo. A confusão começa
quando Alckmin dissocia "fatos"
de "suspeitas". Há vários fatos. E
são esses fatos que despertam
suspeitas a respeito das tão propaladas qualidades gerenciais e
éticas do tucanato paulista.
Em maio deste ano, um órgão
de imprensa insuspeito de petismo, "The Wall Street Journal",
publicou a notícia de que a Alstom gastou US$ 6,8 milhões em
propinas para ganhar licitação
com o Metrô de São Paulo.
Cerca de R$ 13 milhões foram
repassados pela Alstom, segundo
dados do Ministério Público da
Suíça (tampouco um órgão conhecido por ter petistas infiltrados em seus gabinetes), a empresas de fachada, de modo a azeitar
as engrenagens do sistema.
Uma das empresas, segundo as
autoridades suíças, pertence a
um colaborador próximo de
Robson Marinho. Este foi coordenador da campanha eleitoral
de Mário Covas e chefe da Casa
Civil de 1995 a 1997, em seu primeiro mandato. Marinho é hoje
conselheiro do Tribunal de Contas do Estado.
O conselheiro admite ter tido
suas despesas pagas pela Alstom
quando viajou à França para assistir aos jogos da Copa do Mundo de 1998. Foi também, no âmbito do TCE, o único defensor da
prorrogação, por dez anos, de um
contrato do Metrô com a empresa, previsto para durar três anos
apenas.
Eis alguns fatos suficientes para justificar a mais rigorosa investigação. O governador José
Serra declarou seu interesse em
empreendê-la. Terá provavelmente esquecido de avisar seu líder na Assembléia Legislativa, o
deputado Barros Munhoz. A sólida base tucana rejeita a criação
de uma CPI para o caso.
Sem dúvida, é o "kit PSDB" que
está operando, com especial eficiência, numa Assembléia Legislativa desfibrada por longos anos
de governismo. É também o "kit
PSDB" que, com impavidez a toda prova, se vende para a opinião
pública como exemplo de modernidade gerencial.
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