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Uribe imita Chávez
O MAIOR desafeto do presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, na porção sul do
continente é sem dúvida nenhuma seu homólogo venezuelano,
Hugo Chávez. O antagonismo,
entretanto, não o impede de agir
exatamente como o rival quando
se trata de aferrar-se ao poder.
Chávez, é verdade, teve seu
projeto de perpetuação presidencial barrado nas urnas, com a
rejeição da Carta que lhe garantiria reeleições ilimitadas. Agora é
Uribe quem flerta com essa idéia
de claro viés democraticida. Ele
já não descarta modificar a
Constituição para que possa disputar o terceiro mandato.
Deve-se reconhecer que o colombiano, ao contrário do venezuelano, tem pelo menos uma
realização que transcende ao populismo a apresentar: sua política de segurança é um sucesso.
Não apenas logrou reduzir substancialmente a violência que assolava os grandes centros urbanos como ainda obteve um impressionante avanço militar sobre as Farc, a guerrilha que há
mais de 40 anos inferniza a vida
da população.
Em 2002, o grupo -que migrou do golpismo marxista para
o narcotráfico e a indústria dos
seqüestros- controlava 40% do
território colombiano. Hoje seus
membros refugiam-se nos grotões do país. Não é por outro motivo que Uribe é o presidente
mais popular das Américas, com
84% de aprovação.
No front político, entretanto,
sua gestão é vulnerável. Cerca de
60 congressistas de partidos situacionistas são investigados por
envolvimento com os "paras", as
milícias de extrema direita cujas
atividades ilícitas incluem chacinas e narcotráfico. Três dezenas
de políticos estão presos, incluindo um primo e colaborador
de Uribe. Para piorar, o presidente é agora acusado de ter
comprado votos para aprovar a
emenda constitucional que lhe
possibilitou o segundo mandato.
Uribe pode ver-se tentado a recorrer à cartada plebiscitária.
Certa vez, ele disse que apenas
uma "hecatombe" poderia levá-lo a postular mais uma reeleição.
O receio agora é que ele providencie uma.
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