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NELSON MOTTA
Velho filme, novos atores
RIO DE JANEIRO - O filme é velho, um clássico nacional. O chefe
de polícia é o chefão de uma quadrilha de policiais que achacam, extorquem e intimidam, até matam, com
o apoio do governador e de seu grupo político. Ninguém ousa tocar neles; na Assembléia Legislativa, cada
macaco olha seu rabo preso. O governo termina e ele começa sua carreira política se elegendo deputado
estadual, financiado pela quadrilha.
Quando tudo é descoberto pela
implacável Polícia Federal... quem
imaginaria, hein? Um homem tão
bonitão, educado e bem vestido.
Nas garras da Federal, grampeado,
preso e com o seu vasto patrimônio
ilícito devassado e seqüestrado,
com provas contundentes de sua liderança criminosa. Mas o delegado
é solto porque seus colegas da Assembléia consideraram a sua prisão
ilegal.
Livre, vai ser julgado por quebra
de decoro pelo Conselho de Ética
da própria Alerj, embora ética e
Alerj juntos possam até configurar
um oximoro carioca. Vocês, que estão acostumados às vergonhas dos
Conselhos de Ética da Câmara e do
Senado, e cada vez mais descrêem
no que vêem e se horrorizam, esperem até ver uma sessão da Alerj. É a
mais completa tradução do que há
de pior na política carioca.
O roliço ex-governador também
está atolado. Sem ele, jamais o seu
fiel chefe de polícia manteria sua
posição ao longo de dois governos e
passaria, incólume e cada vez mais
poderoso, por vários secretários de
Segurança.
Surpresa: o ex-governador não
sabia das atividades criminosas de
seu homem de confiança. Foi enganado. Embora ninguém o chame de
ladrão, foi indiciado por chefiar o
chefe da quadrilha e por financiamentos ilícitos de campanha. Vai
dizer que foi tudo perseguição política. Conseguirão o MP e a PF dar
ao velho filme um novo final?
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