São Paulo, sexta-feira, 06 de junho de 2008

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NELSON MOTTA

Velho filme, novos atores

RIO DE JANEIRO - O filme é velho, um clássico nacional. O chefe de polícia é o chefão de uma quadrilha de policiais que achacam, extorquem e intimidam, até matam, com o apoio do governador e de seu grupo político. Ninguém ousa tocar neles; na Assembléia Legislativa, cada macaco olha seu rabo preso. O governo termina e ele começa sua carreira política se elegendo deputado estadual, financiado pela quadrilha.
Quando tudo é descoberto pela implacável Polícia Federal... quem imaginaria, hein? Um homem tão bonitão, educado e bem vestido. Nas garras da Federal, grampeado, preso e com o seu vasto patrimônio ilícito devassado e seqüestrado, com provas contundentes de sua liderança criminosa. Mas o delegado é solto porque seus colegas da Assembléia consideraram a sua prisão ilegal.
Livre, vai ser julgado por quebra de decoro pelo Conselho de Ética da própria Alerj, embora ética e Alerj juntos possam até configurar um oximoro carioca. Vocês, que estão acostumados às vergonhas dos Conselhos de Ética da Câmara e do Senado, e cada vez mais descrêem no que vêem e se horrorizam, esperem até ver uma sessão da Alerj. É a mais completa tradução do que há de pior na política carioca.
O roliço ex-governador também está atolado. Sem ele, jamais o seu fiel chefe de polícia manteria sua posição ao longo de dois governos e passaria, incólume e cada vez mais poderoso, por vários secretários de Segurança.
Surpresa: o ex-governador não sabia das atividades criminosas de seu homem de confiança. Foi enganado. Embora ninguém o chame de ladrão, foi indiciado por chefiar o chefe da quadrilha e por financiamentos ilícitos de campanha. Vai dizer que foi tudo perseguição política. Conseguirão o MP e a PF dar ao velho filme um novo final?


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