São Paulo, sexta-feira, 06 de junho de 2008

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ELIANE CANTANHÊDE

A verdadeira oposição

BRASÍLIA - Primeiro, foi o dossiê: Lula e Dilma atiraram publicamente em "traidores", ou em tucanos infiltrados no Palácio do Planalto, e acertaram em José Aparecido Nunes Pires, petista de carteirinha, levado para a Casa Civil por Dirceu e mantido por Dilma.
Agora, a confirmação de que o Planalto forçou a venda da VarigLog para testas-de-ferro de um grupo estrangeiro, sem base legal. Quem lançou a bomba não foi um "traidor" ou tucano infiltrado.
Foi Denise Abreu, amiga de Dirceu, levada para o governo por ele e transformada em homem forte da ex-Anac -a agência da crise aérea. Parece que o governo é, no mínimo (pode ser bem pior), uma bagunça em que ninguém sabe direito o que faz e a Casa Civil se mete em tudo, com Dilma mandando aos gritos até em agências que, em tese, deveriam ser "independentes".
No caso da Varig, há três momentos da Casa Civil. No início, José Dirceu queria porque queria uma fusão de empresas que salvasse a bandeira Varig e fosse a plataforma de lançamento da TAM no espaço internacional. Depois, o vice José Alencar detonou o acordo e o assunto foi esquecido, como ocorre com decisões que ninguém quer tomar. Enfim, Dilma Rousseff convocou o presidente da Anac, Milton Zuanazzi, para dar um jeito, qualquer jeito, para manter a Varig, qualquer Varig, no ar.
O correto seria deixar que morresse de falência (literal) múltipla dos órgãos, como ocorre em economias abertas. Mas, num ano eleitoral, o governo preferiu um jeitinho: pressionar para que, sem aval jurídico, sem nenhum documento formal, sem nenhuma prudência, a Varig continuasse voando.
Perdem todos. Quem comprou, porque o negócio era furado; quem vendeu, porque não está recebendo tudo o que esperava; quem fechou os olhos, porque é imoral. E perdem, mais uma vez, o governo e Dilma, acuados e chamados a dar explicações que não têm.

elianec@uol.com.br


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