São Paulo, sábado, 06 de julho de 2002

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FUGA PARA DENTRO

Teve forte impacto a decisão do Banco Central de antecipar a mudança na contabilização do valor dos títulos públicos detidos por fundos de investimento. Adotada no final de maio, em contexto turbulento, a medida implicou explicitar perdas relevantes para os cotistas. Estes reagiram ordenando forte retirada de recursos. Assim, em junho os fundos tiveram captação líquida negativa recorde, da ordem de R$ 20 bilhões.
Mas os indícios são de que o nervosismo dos investidores em fundos -que em sua maioria são pessoas físicas e empresas não financeiras- não os levou a retirar os recursos do mercado financeiro. Esse é um sinal positivo. Mais do que dólar ou ativos reais (ouro, imóveis), esses investidores procuraram alternativas de aplicação oferecidas pelo sistema financeiro. A caderneta de poupança, por exemplo, teve captação líquida recorde em junho. Também foram aplicados vários bilhões em CDBs.
A caderneta de poupança, mesmo oferecendo isenção de imposto de renda sobre os rendimentos, é uma alternativa de aplicação na maioria das ocasiões menos rentável do que os fundos, embora mais segura. Mas os saldos na poupança têm garantia apenas até o valor de R$ 20 mil, um valor relativamente baixo muitos investidores. Já no caso do CDB, não há garantia alguma: se o banco que o vendeu quebrar, o investidor terá de tentar reaver seus recursos ao longo do processo legal da falência.
Embora, salvo raras exceções, não sejam profissionais, pode-se supor com segurança que os investidores que preferiram sair dos fundos conhecem essas informações básicas. Isso reforça a impressão de que, a despeito do nervosismo, a solidez do sistema financeiro não está sendo questionada. Esse é um aspecto importante, que enfraquece os paralelos, tantas vezes indevidamente traçados, entre a situação do Brasil e a da Argentina. Cabe às autoridades zelar pela preservação desse "seguro" contra um agravamento maior da instabilidade.



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