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MERCADORES DE ILUSÃO
Até alguns anos atrás, entrar
numa faculdade significava
conquistar uma profissão e um emprego. O curso de direito, por exemplo, abria as portas tanto para a carreira de advogado como para as de
juiz, promotor e vários outros cargos
públicos preenchidos por concurso.
Isso já não é verdade. E não apenas
pelas profundas transformações que
ocorreram no mercado de trabalho
nas últimas décadas. Em artigo publicado pela Folha na quinta-feira,
Carlos Miguel Aidar, presidente da
seccional paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), descreve
com propriedade os impactos negativos da flexibilização do ensino jurídico no país. Primeiro foi a desordenada proliferação dos cursos, que
hoje somam mais de 400, com centenas de pedidos de abertura já protocolados no MEC. Agora, surgem o
afrouxamento curricular e a possível
redução, de cinco anos para três, da
duração dos cursos.
O resultado dessa política tem sido
a perda de qualidade. No exame da
Ordem em São Paulo, apenas 19%
dos formandos são aprovados. No
Espírito Santo, onde a proliferação
não avançou tanto, a mesma prova
foi aplicada, com 37% de aprovação.
No caso dos concursos, a situação
é ainda mais grave. Menos de 2% dos
que tentam a prova do Tribunal de
Justiça para juiz em São Paulo são
aprovados. Nos anos 80, 7% conseguiam qualificar-se. No Ministério
Público paulista, menos de 1% foi
aprovado em recente concurso.
Sem o exame da Ordem, o bacharel
em direito não pode exercer a advocacia. Sem base de conhecimentos,
ele só muito dificilmente conseguirá
passar em algum concurso. Parece,
portanto, adequado afirmar que esse
aluno foi vítima de um engodo. Teve
frustrados os seus direitos, pois pagou -e caro- por um curso sem receber em contrapartida uma formação minimamente adequada.
O Brasil precisa, sem dúvida, aumentar seus quadros com formação
superior. Mas fazê-lo à custa da qualidade é ludibriar a todos.
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