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CLÓVIS ROSSI
Ponto de interrogação
LISBOA - Mais que uma onda de
esquerda, ao contrário do que a cultura "fast food" predominante andou espalhando, o que as eleições
na América Latina estão mostrando
são eleitorados divididos e/ou candidatos/eleitos sem claros projetos
de país.
No Peru, deu um quase empate
entre Alan García, afinal eleito, e
Ollanta Humala. No primeiro turno, deu também quase empate entre García e Lourdes Flores.
Ficou de fora do segundo turno
justamente a candidata que mais
clareza tinha na sua proposta, boa
ou ruim, ao gosto do freguês.
No México, o impasse é ainda
mais nítido. Como são mais claras
as diferenças entre o candidato da
esquerda (López Obrador) e o da direita (Felipe Calderón).
O que, de resto, torna mais complicado o cenário ante a divisão do
eleitorado: só votaram 60%, aproximadamente, dos eleitores, divididos em três terços: um terço para a
esquerda, outro para a direita e o
terceiro contra ambos.
Ou seja, o novo presidente terá o
apoio de apenas 20% do público,
pouco mais ou pouco menos.
Na Bolívia, embora o presidente
Evo Morales tenha reafirmado a
maioria que conquistara pouco antes, criou-se um novo problema,
potencialmente mais explosivo que
o do gás: os 71% dos eleitores de
Santa Cruz de la Sierra que querem
autonomia são o exato oposto dos
planos de Evo.
É a região menos indígena do
país, é a mais rica e é a mais pró-business. É justamente nessa região
que a idéia autonômica é mais vigorosa, embora tenha perdido no conjunto do país -o que, de novo, mostra divisão do eleitorado.
Falta o Brasil, mas as pesquisas
até agora dão pouco menos da metade com Lula e o restante contra o
presidente.
Parece que não há onda, mas um
ponto de interrogação regional.
crossi@uol.com.br
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