São Paulo, quinta-feira, 06 de julho de 2006

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CLÓVIS ROSSI

Ponto de interrogação

LISBOA - Mais que uma onda de esquerda, ao contrário do que a cultura "fast food" predominante andou espalhando, o que as eleições na América Latina estão mostrando são eleitorados divididos e/ou candidatos/eleitos sem claros projetos de país.
No Peru, deu um quase empate entre Alan García, afinal eleito, e Ollanta Humala. No primeiro turno, deu também quase empate entre García e Lourdes Flores.
Ficou de fora do segundo turno justamente a candidata que mais clareza tinha na sua proposta, boa ou ruim, ao gosto do freguês.
No México, o impasse é ainda mais nítido. Como são mais claras as diferenças entre o candidato da esquerda (López Obrador) e o da direita (Felipe Calderón). O que, de resto, torna mais complicado o cenário ante a divisão do eleitorado: só votaram 60%, aproximadamente, dos eleitores, divididos em três terços: um terço para a esquerda, outro para a direita e o terceiro contra ambos.
Ou seja, o novo presidente terá o apoio de apenas 20% do público, pouco mais ou pouco menos.
Na Bolívia, embora o presidente Evo Morales tenha reafirmado a maioria que conquistara pouco antes, criou-se um novo problema, potencialmente mais explosivo que o do gás: os 71% dos eleitores de Santa Cruz de la Sierra que querem autonomia são o exato oposto dos planos de Evo.
É a região menos indígena do país, é a mais rica e é a mais pró-business. É justamente nessa região que a idéia autonômica é mais vigorosa, embora tenha perdido no conjunto do país -o que, de novo, mostra divisão do eleitorado.
Falta o Brasil, mas as pesquisas até agora dão pouco menos da metade com Lula e o restante contra o presidente.
Parece que não há onda, mas um ponto de interrogação regional.


crossi@uol.com.br

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