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FERNANDO DE BARROS E SILVA
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SÃO PAULO - No muro, pode-se ler,
em letras de fôrma nítidas e garrafais: "UM NOVO NOME". O jovem,
no entanto, se esforça em vão:
"Umm....". Tenta prosseguir:
"Ummma renova...". E desiste.
Para o cinegrafista que o filma,
ele explica: "Letra de fôrma, né mano. Mas eu não entendo, truta. Passei oito anos na escola, tipo oitava
série. E tipo nessas daí eu não entendo. Eu só consigo ler picho só.
Agora, essas letra aí não entendo".
Ele então conclui: "Sou meio
analfabeto, mas pichação dá pra
entender". Logo a seguir, ele decifra diante da câmera, com fluência,
o significado de siglas e palavras pichadas em outro muro, onde nós,
alfabetizados, só conseguimos enxergar rabiscos incompreensíveis.
Essa cena faz parte do documentário "Pixo", dos irmãos João Wainer e Roberto T. Oliveira. O jovem
pichador (ou pixador, na língua deles) se chama William, mora na periferia de Osasco, na Grande São
Paulo, é casado e tem um filho. Tinha 18 anos quando foi filmado.
Na estreia do documentário, em
Paris, no ano passado, franceses
perguntavam a Wainer, estupefatos, como era possível que o garoto
tivesse estudado até a oitava série e
fosse, ainda assim, analfabeto.
É difícil mesmo entender como
alguém conclui o ensino fundamental sem saber ler. Será um exagero dizer que William é um retrato
do país? Não sei. Mas o próprio filme mostra muito claramente que
ele está longe de ser um caso isolado. Apenas começamos a perceber
o tamanho da tragédia educacional
brasileira, diante da qual não é preciso ser francês para perder a fala.
Estamos agora às voltas com os
resultados do Ideb -o índice que
mede a qualidade do ensino básico
(fundamental e médio) no país.
Muito resumidamente, os números
mostram e os especialistas dizem
que o quadro ainda é ruim, ou muito ruim, mas está melhorando.
Mas quantas gerações de jovens
ainda vão escalar paredes como bichos e inventar sua própria língua
para nos dizer que, sim, são gente?
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