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MELCHIADES FILHO
Jogo feio
BRASÍLIA - Como diz o trocadilho
que li na internet, o Brasil perdeu a
chance de faturar a Copa de 2010,
não a de superfaturar a de 2014.
Até agora, o país não sabe quanto vai gastar para organizar o próximo Mundial -nem em quê. O governo federal fala em R$ 22 bilhões,
mas é chute, à espera dos aditivos
para "contratempos imprevistos".
Isso porque os projetos de infraestrutura e transporte ainda não
estão detalhados. Os de segurança
nem sequer foram esboçados.
E há o gargalo dos estádios. A Fifa não bateu martelo sobre quais serão erguidos ou reformados, mas os
custos não param de subir. Quase
triplicaram desde o primeiro orçamento (de R$ 2 bi para R$ 5,3 bi).
Tanta indecisão parece proposital. Serve para os envolvidos arrancarem mais dinheiro estatal, não?
No mínimo, impede o poder público de fechar as planilhas e fixar o
cronograma de desembolsos.
Além disso, se as coisas tardam a
acontecer, os órgãos de fiscalização
tardam a se mexer. Os sites dos tribunais de contas sobre a Copa, por
exemplo, continuam zerados.
É má-fé, e não só ingenuidade,
esperar que a iniciativa privada cuide de filtrar os vícios do processo.
Como revelou importante série
de reportagens da Folha neste ano,
as grandes construtoras brasileiras
têm o hábito de fazer acordos antes
das licitações -superfaturam os
contratos e repartem a execução
das obras e o dinheiro recebido.
Segundo a Polícia Federal, foram
fraudados o metrô em várias capitais, rodovias, portos e aeroportos,
refinarias etc... a lista só não cresceu porque o inquérito foi convenientemente congelado pelo STJ.
O Planalto chegou a formar uma
comissão de burocratas para coibir
a atuação desses "consórcios paralelos" de empreiteiras e assegurar a
lisura das concorrências da Copa
-e da Olimpíada do Rio-2016.
Mas é difícil acreditar no comprometimento contra a corrupção
de um governo que por ora não fez
senão atender e bajular os cartolas.
melchiades.filho@grupofolha.com.br
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