São Paulo, quarta-feira, 06 de agosto de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES O governo Lula e os novos especialistas
TARSO GENRO
Tudo ficou provado em sentido inverso, pois o impedimento político (ausência de democracia política) transformou os representantes do proletariado não somente em algozes da classe operária, mas também de toda a sociedade que não compartilhasse, pelo silêncio ou pela cumplicidade, da sua visão linear do mundo e da história. As mudanças no PT, independentemente das suas gradações no interior das nossas correntes internas, estão relacionadas com esse cenário histórico. O incrível não são as nossas mudanças, que sintetizam hoje a unidade do nosso partido num patamar bem menos ambicioso, mas mais realista e exequível: forjar um outro modelo de desenvolvimento, com inclusão social, emprego e distribuição de renda. Fazer a verdadeira construção democrática, renovando a democracia e forjando, dentro dela, a idéia de nação. Lutar para construir um Estado moderno e participativo, num cenário mundial que é adverso a tudo o que cheira a igualdade e justiça. O incrível, e de pasmar, não é quem muda e busca novos caminhos, mas é quem não muda as suas posições neoliberais -ou mesmo quaisquer posições supostamente "de esquerda", já derrotadas pela história- mediante os dois fracassos brutais dos últimos anos: o fracasso daquele socialismo cuja construção é baseada na força arbitrária e coercitiva do Estado, subordinado ao corporativismo e ao messianismo classista, e o fracasso do projeto econômico, do modo de vida e da visão restritiva da democracia, originária da experiência neoliberal, que não adaptou, mas procurou extinguir as importantes conquistas sociais das lutas democráticas, socialistas e social-democráticas da modernidade madura. Não se enganem os oposicionistas ao governo Lula, que disputam legitimamente uma outra variante programática democrática que não é a nossa. Ao se encantarem com o oposicionismo esquerdista e corporativo, ou com o oposicionismo neoliberal da ex-esquerda (que construiu a crise que aí está), estão dando força às duas possibilidades de atraso neste início de século: aquela que brande os privilégios como direitos, e tenta fazer disso uma "grife revolucionária", e aquela que prega a extinção indireta da política, pela supremacia absoluta do mercado, e faz da sua suposta coerência um moralismo intolerante e sectário. Tarso Genro, 56, advogado, é ministro da Secretaria Especial do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Hélio Zylberstajn, André Souza, Anderson Stancioli e Marcelo Milan: Aposentadoria e equidade Índice |
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