São Paulo, segunda-feira, 06 de agosto de 2007

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RUY CASTRO

Ranço regional

RIO DE JANEIRO - Parece incrível, mas, até poucos anos, quando a Varig ainda estava em forma e reinando nos nossos céus, voar era um meio de transporte tão natural que nem era objeto de conversação.
Em qualquer ponto do Brasil, diante de uma viagem doméstica ou para o exterior, podia-se marcar um compromisso para poucos minutos depois da chegada. Era só calcular o tempo de porta a porta, envolvendo o check-in, o vôo e o recolhimento da bagagem no destino. Não tinha erro. E, mais importante: o avião nos entregava vivos.
Mas então começou a crise da Varig -que o governo, torcedor e parceiro da TAM, deixou chegar ao insustentável. Providenciou-se o dinheiro para mandar um astronauta brasileiro fazer macaquices no espaço, mas não para resolver o problema de uma empresa com credibilidade e prestígio internacionais, milhares de funcionários afiados e milhões de clientes fiéis.
A Varig quebrou, foi desmembrada e, comprada por uns e outros, continuou a voar, só que amputada de 64 aeronaves e 208 rotas no Brasil. Originalmente, essas rotas eram distribuídas com lógica e serviam a todo o país, porque a Varig tinha mentalidade nacional. Mas os herdeiros de suas linhas nunca conseguiram se livrar do ranço regional.
Nos últimos anos, cansei de ir do Rio a Brasília tendo de passar antes por Congonhas. Ou de ir ou voltar da Europa sendo obrigado a esse mesmo desvio maluco. Dizia-se que era por causa da demanda maior de São Paulo.
Agora sabe-se que não. Era porque, esnobando o interesse público e centralizando tudo em Congonhas, a empresa regional que dominou o país via crescer absurdamente a sua rentabilidade. O inevitável aconteceu, e o querido e inocente Congonhas pagará por ter sido obrigado a engolir mais do que podia mastigar.


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