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Bola perdida
Presidente da CBF muda discurso e afirma que estádios para Copa de 2014 vão precisar de verbas do setor público
COMO NÃO ERA difícil de
prever, recursos públicos serão consumidos
na construção e reforma
de estádios para as partidas da
Copa do Mundo de 2014. A versão de que a iniciativa privada estaria à frente desses investimentos foi afastada por seu principal
divulgador, o presidente da Confederação Brasileira de Futebol,
Ricardo Teixeira.
O dirigente, que preside a entidade há duas décadas, reiterou
em diversas oportunidades -entre as quais num artigo publicado em 2008 por esta Folha- que
o modelo previsto para o evento
teria "viés predominantemente
privado". Caberia ao setor público, na proposta anteriormente
apresentada pela CBF, investir
apenas naquilo que é de sua
competência -infraestrutura,
aeroportos, transportes etc.
Agora, em entrevista a alguns
dos principais jornais do país,
Teixeira diz o que a experiência
e o bom senso davam como certo: será inevitável o desembolso
de verbas governamentais para
modernizar antigas arenas esportivas e construir duas novas.
Não se sabe como os custos serão divididos. O total, por ora, é
estimado em R$ 3 bilhões. Mas
basta lembrar o descalabro em
que se transformaram as contas
dos Jogos Pan-Americanos de
2007 para observar com cautela
cálculos dessa natureza.
Paixão nacional, o futebol tem
servido no Brasil a interesses políticos e continua a abrigar um
sem número de irregularidades,
como lavagem de dinheiro, caixa
dois, evasão fiscal, enriquecimento ilícito e corrupção.
Não é necessário um exame
mais aprofundado para perceber
que as bases sobre as quais se organiza esse esporte no país estão
em ruínas. Tivessem os clubes
estatuto de empresas, e não contassem com o deplorável beneplácito das autoridades, já estariam legalmente falidos em sua
quase totalidade.
Em grande parte apegados a
rotinas amadorísticas e patrimonialistas, sempre a contar com a
leniência e a cooperação de políticos municipais, estaduais e federais, os dirigentes brasileiros
não se prepararam para as mudanças ocorridas nas últimas décadas, quando se aprofundou o
processo de globalização.
A consolidação do esporte como peça da indústria internacional de entretenimento deixou o
Brasil em vexatória posição periférica. O quadro, que já era de
atraso, tornou-se insustentável.
Quando assumiu a Presidência
da República, o torcedor Luiz
Inácio Lula da Silva alimentou
esperanças de que mobilizaria
instrumentos governamentais
para tentar superar a situação.
Não foi o que aconteceu. O governo Lula frustrou as expectativas mais sensatas e progressistas
do setor ao reincidir na velha
prática de conceder benefícios
públicos a clubes e entidades
sem exigir contrapartidas que
pudessem induzi-los a um regime de gestão mais responsável e
transparente. Esse histórico só
faz aumentar as apreensões
acerca de como será conduzida a
organização da Copa no Brasil.
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