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Brincadeira com fogo
OS NÚMEROS do desmatamento na Amazônia se
transformaram num critério destacado de desempenho
do Ministério do Meio Ambiente. Quando sobem, o titular da
pasta perde pontos na opinião
pública nacional e internacional.
O ministro de plantão, assim,
tem forte incentivo para tergiversar quando os dados não lhe
são de todo favoráveis.
Os sensores de satélite que medem a destruição não se sujeitam, contudo, à encenação palaciana. Do ponto de vista histórico, a última cifra confirmada registra que o desmate aumentou.
Em 2008, subiu 12%, com 12.911
km2 (o equivalente a 8,6 vezes a
área do município de São Paulo),
contra 11.968 km2 em 2007. Esse
dado é apurado anualmente pelo
Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (Inpe), desde 1988, pelo sistema Prodes.
Na divulgação das estatísticas,
anteontem, o ministro Carlos
Minc preferiu dourar a pílula.
Destacou números provisórios
do sistema auxiliar Deter, criado
em 2004, pelo qual houve queda
de 55% no desflorestamento nos
últimos 11 meses.
Com a facilidade habitual com
que lança palavras ao vento,
Minc profetizou que 2009 terá
"o menor desmatamento dos últimos 20 anos". Não há base objetiva para tal predição.
O Deter trabalha com imagens
de resolução pior, menos precisas que as do Prodes, mas suficientes para orientar a fiscalização. Não detecta pequenas áreas
desmatadas. Além disso, metade
da Amazônia estava coberta por
nuvens no período de medição,
bloqueando a visão dos satélites.
Na melhor das hipóteses, o Deter indica uma tendência de queda -de resto bem-vinda, em especial diante do aumento verificado em 2008, após três anos de
redução. Todos podem torcer
para que se confirme, mas beira
a irresponsabilidade ignorar alguns sinais preocupantes, como
o avanço dos cortes fora do chamado Arco do Desmatamento
-sudeste do Pará, norte de Mato
Grosso e Rondônia.
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