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JOSÉ SARNEY
Uma eleição sem jeito de
O PMDB tocou no ponto-chave do problema da América Latina e, por consequência,
brasileiro: aprofundar a democracia. A Constituição de
88, boa no capítulo dos direitos individuais e sociais, criou
barreiras para atingirmos esse
objetivo.
Sem a consciência de que a
democracia é um modo de vida, crescem poderes autônomos de setores da administração pública, do Judiciário, do
Legislativo, criando áreas de
privilégios, que, embora não
sejam pessoais, têm a força de
transformá-los em grupos superiores ao povo.
Não se pode ter democracia
aprofundada com as medidas
provisórias que acabam com o
Legislativo; e sem elas passou
a ser impossível governar. Resultado, no Congresso desapareceu o debate, só passam
matérias anódinas ou por consenso: as bondades, que não
são aquelas que viu Pero Vaz
de Caminha, mas as que denunciam os jornais, como
trens da alegria, privilégios,
prerrogativas de funções e
mais e tal.
Estamos presenciando a regressão do que é a democracia. Com o exagero de controles, desapareceram as campanhas, a capilaridade na discussão de problemas e ideias,
para restarem blogs, notícias
de jornais e a avassaladora dominância da televisão. O eleitor, o povo mesmo, é mero
coadjuvante.
Amarraram tanto as regras,
impuseram tantos entraves,
que o processo político passou
a ser sobretudo um processo
jurídico. Tenho um amigo candidato que me diz ter mais advogados do que eleitores.
Ora, a democracia é um estado de consciência que se
exercita pela educação. Pela
prática. Não pode ser concebida como uma sala de aula em
que só se faz o que o professor
ensina e manda fazer.
É assim que pensam os caudilhos, nada mais, com todas
as letras, que o autoritarismo.
Não há só ditadura de homens, mas também de instituições. Duverger disse que a
ditadura do Congresso era
pior do que a do Executivo e
que a da Justiça era pior ainda
que a dos outros Poderes.
Já se queixam da ditadura
do Tribunal de Contas, da
Controladoria da União, do
Banco Central, da Polícia Federal, da CBF, do Ministério
Público, da Beija-Flor, da Vai-Vai, enfim, ditadura do papai,
da mamãe -e até estes da ditadura dos filhos.
A verdade é que estamos no
período das eleições e não vemos eleições. Elas estão restrita aos tribunais e começaram
ontem a dar sinais de vida,
com o primeiro debate na TV
dos presidenciáveis.
Na cultura da internet, vivemos uma eleição virtual. Ela
existe, funciona, mas ninguém vê. No mais, por falar
em internet, a grande notícia é
que ela matou a Playboy, a
grande marca hedonista. Para
ver peladas, passe o dia visitando sites.
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta
coluna.
jose-sarney@uol.com.br
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