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VINICIUS TORRES FREIRE
Mania de grandeza
SÃO PAULO - De tempos em tempos, quando a situação política e/ou econômica melhora um bocadinho, os
governantes brasileiros entram em
surto maníaco, mania de grandeza.
A história recomeça com eles, que
fundam uma nova era de prosperidade e, nada mais justo, começam a
fazer planos de ficar mais 20 anos no
poder, como o Serjão do FHC, ou
mais 37 anos, como o Gabão de Lula.
Os partidos do poder inflam, como
a Arena, que já foi o "maior partido
do Ocidente", o PMDB, cevado com o
estelionato eleitoral do Cruzado, o
PSDB, que virou partido-ônibus com
o Real. Os partidos no poder querem
escrever a história antes que ela
aconteça e inventam rótulos para
pré-nomear o período histórico em
que vão oferecer a bonança ao povo,
seja a "Nova República" de Tancredo
ou ficções ideológicas como "estabilidade monetária e responsabilidade
fiscal" de FHC, coisas que nunca houve, nem estabilidade ou responsabilidade, em seu governo.
Lula da Silva e seus lulistas-petistas
começam a surtar. Os traços da mania de grandeza da nova era são inequívocos, típicos. Querem dar um jeito em quem os critica e incomoda.
Querem dirigir a opinião do país, por
meio de avanços autoritários e propaganda maciça. Querem insuflar o
nacionalismo, o que não passa da velha tentativa de identificar Estado,
governo e nação, criando um clima
de animosidade contra quem não
embarca na "fé no país", nome propagandístico de fé em Lula.
Mas, desde a redemocratização, o
PT é o partido com mais chances de
levar seu surto à realização. O petismo-lulismo é uma extraordinária
síntese da vida brasileira dos últimos
20 anos. De um lado, organizou os
menos pobres dos pobres numa burocracia partidária eficaz, que durante
duas décadas cresceu com verborragia subsocialista. De outro, abraçou o
resultado menos precário de 20 anos
de erros e tentativas de fazer a modernização conservadora da economia do país (isto é, a edição revista e
algo melhorada, nos últimos dois
anos de FHC, dos planos Cruzado,
Collor e Real). Juntou elite e "elite
operária", partido capaz e disciplinado, economia conservadora em razoável funcionamento e sopão para a
ralé, que continua excluída.
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