São Paulo, segunda-feira, 06 de setembro de 2004

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VINICIUS TORRES FREIRE

Mania de grandeza

SÃO PAULO - De tempos em tempos, quando a situação política e/ou econômica melhora um bocadinho, os governantes brasileiros entram em surto maníaco, mania de grandeza. A história recomeça com eles, que fundam uma nova era de prosperidade e, nada mais justo, começam a fazer planos de ficar mais 20 anos no poder, como o Serjão do FHC, ou mais 37 anos, como o Gabão de Lula.
Os partidos do poder inflam, como a Arena, que já foi o "maior partido do Ocidente", o PMDB, cevado com o estelionato eleitoral do Cruzado, o PSDB, que virou partido-ônibus com o Real. Os partidos no poder querem escrever a história antes que ela aconteça e inventam rótulos para pré-nomear o período histórico em que vão oferecer a bonança ao povo, seja a "Nova República" de Tancredo ou ficções ideológicas como "estabilidade monetária e responsabilidade fiscal" de FHC, coisas que nunca houve, nem estabilidade ou responsabilidade, em seu governo.
Lula da Silva e seus lulistas-petistas começam a surtar. Os traços da mania de grandeza da nova era são inequívocos, típicos. Querem dar um jeito em quem os critica e incomoda. Querem dirigir a opinião do país, por meio de avanços autoritários e propaganda maciça. Querem insuflar o nacionalismo, o que não passa da velha tentativa de identificar Estado, governo e nação, criando um clima de animosidade contra quem não embarca na "fé no país", nome propagandístico de fé em Lula.
Mas, desde a redemocratização, o PT é o partido com mais chances de levar seu surto à realização. O petismo-lulismo é uma extraordinária síntese da vida brasileira dos últimos 20 anos. De um lado, organizou os menos pobres dos pobres numa burocracia partidária eficaz, que durante duas décadas cresceu com verborragia subsocialista. De outro, abraçou o resultado menos precário de 20 anos de erros e tentativas de fazer a modernização conservadora da economia do país (isto é, a edição revista e algo melhorada, nos últimos dois anos de FHC, dos planos Cruzado, Collor e Real). Juntou elite e "elite operária", partido capaz e disciplinado, economia conservadora em razoável funcionamento e sopão para a ralé, que continua excluída.


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