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CLÓVIS ROSSI
O PIB e os búzios
SÃO PAULO - O que você acha que
aconteceria com o gerente financeiro de uma empresa que, um belo
dia, sem mais, encostasse no patrão
e dissesse: "Chefinho, a receita do
ano, que eu achava que seria de R$
100 mil, na verdade será de apenas
R$ 80 mil"?
Se o chefe estivesse num daqueles raros dias de ótimo humor, o gerente seria apenas demitido por
justa causa e provavelmente banido
de qualquer emprego do gênero no
país e nos países vizinhos.
A menos, é claro, que o erro tivesse sido cometido por um desses adivinhos de plantão que se animam, a
cada ano, a dizer quanto vai crescer
a economia brasileira. Aí não aconteceria nada.
Afinal, um erro desse calibre é o
que acaba de ser cometido pelos
"oráculos" de arrabalde. De repente, reduzem de mais ou menos 4%
para apenas 3,2% a expectativa de
crescimento para 2006.
Aliás, é pior do que "de repente".
Esperaram rodar dois terços do terceiro trimestre para, a partir do resultado do segundo trimestre, conforme anunciado pelo IBGE, mudar
suas previsões. Significa, na prática,
o seguinte: não têm antena nenhuma fincada na economia real. Afinal, o segundo trimestre já terminou faz dois meses e só depois do
alerta do IBGE é que o pessoal recalibra seus "chutes".
Como é que é possível levar a sério essa turma? Como é que o Banco
Central ainda se anima a mencionar as previsões do tal "mercado",
dando a elas um ar oracular, quando se assemelham mais a um jogo
de búzios.
Se os "adivinhos" estivessem de
fato acompanhando a economia
real, uma vez terminado o segundo
trimestre já teriam detectado alguma coisa, algum desvio nas suas
previsões anteriores. Não precisariam esperar dois meses e o aviso do
IBGE para corrigi-las. E não foi
uma correção pequena, mas um erro de 20%. Aposto que, nos búzios,
o erro seria inferior.
crossi@uol.com.br
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