São Paulo, quarta-feira, 06 de setembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CLÓVIS ROSSI

O PIB e os búzios

SÃO PAULO - O que você acha que aconteceria com o gerente financeiro de uma empresa que, um belo dia, sem mais, encostasse no patrão e dissesse: "Chefinho, a receita do ano, que eu achava que seria de R$ 100 mil, na verdade será de apenas R$ 80 mil"?
Se o chefe estivesse num daqueles raros dias de ótimo humor, o gerente seria apenas demitido por justa causa e provavelmente banido de qualquer emprego do gênero no país e nos países vizinhos.
A menos, é claro, que o erro tivesse sido cometido por um desses adivinhos de plantão que se animam, a cada ano, a dizer quanto vai crescer a economia brasileira. Aí não aconteceria nada. Afinal, um erro desse calibre é o que acaba de ser cometido pelos "oráculos" de arrabalde. De repente, reduzem de mais ou menos 4% para apenas 3,2% a expectativa de crescimento para 2006. Aliás, é pior do que "de repente".
Esperaram rodar dois terços do terceiro trimestre para, a partir do resultado do segundo trimestre, conforme anunciado pelo IBGE, mudar suas previsões. Significa, na prática, o seguinte: não têm antena nenhuma fincada na economia real. Afinal, o segundo trimestre já terminou faz dois meses e só depois do alerta do IBGE é que o pessoal recalibra seus "chutes".
Como é que é possível levar a sério essa turma? Como é que o Banco Central ainda se anima a mencionar as previsões do tal "mercado", dando a elas um ar oracular, quando se assemelham mais a um jogo de búzios.
Se os "adivinhos" estivessem de fato acompanhando a economia real, uma vez terminado o segundo trimestre já teriam detectado alguma coisa, algum desvio nas suas previsões anteriores. Não precisariam esperar dois meses e o aviso do IBGE para corrigi-las. E não foi uma correção pequena, mas um erro de 20%. Aposto que, nos búzios, o erro seria inferior.


crossi@uol.com.br

Texto Anterior: Editoriais: Reforma demorada

Próximo Texto: São Paulo - Fernando Rodrigues: Partidos falidos
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.