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TENDÊNCIAS/DEBATES
Um Poder Judiciário atuante
HÉLIO BICUDO
Seria importante que o novo chefe do Executivo paulista retomasse a idéia de criar distritos judiciários, nem que fosse uma experiência-piloto
EM VEZ DE juizados especiais para pequenas causas, seria mais
lógica a criação de distritos judiciários com plena competência, já que
aqueles perderam os fundamentos
que levaram à sua instituição: atendimento rápido de causas de pequeno
valor, o que permitiria o desafogo da
Justiça qualificada para os procedimentos de maior conteúdo -quer dizer, em última análise, as de real valor
monetário.
Os juizados de pequenas causas,
desde sua instituição, foram considerados órgãos de uma Justiça de segunda categoria, com magistrados
deslocados de suas carreiras, e servindo, muitas vezes, de punição àqueles
que deviam contas aos órgãos superiores da magistratura.
Daí não ter maior sentido o acordo
realizado sob os auspícios do Conselho Nacional de Justiça para serem
retomados os princípios que teriam
norteado a criação dessa chamada
"Justiça de pequenas causas".
A sociedade civil e os magistrados
que dela fazem parte precisam voltar
seus olhos para as necessidades de
uma Justiça real, igual para todos e a
todos acessível, sem distinção de valor econômico.
Esse ideal não pode ser alcançado
no sistema atual, de uma Justiça centralizada nos fóruns ou nos Palácios
de Justiça. Essa centralização é, sem
dúvida, a maior causa da demora na
solução dos conflitos, não só da alçada
civil, mas, por igual, da área criminal.
Vale recordar que, lá pelos idos dos
anos 60 do século passado, o então
governador de São Paulo, professor
Carlos Alberto Alves de Carvalho Pinto, com a colaboração do Tribunal de
Justiça do Estado, apresentou à Assembléia Legislativa um projeto de lei
que criava 50 distritos judiciários numa cidade que, à época, tinha uma população de pouco menos de 4 milhões
de habitantes.
Tratava-se de um projeto ambicioso, pois os distritos em questão englobavam, num só módulo, o juiz, o promotor, o delegado e os advogados; um
contingente policial e uma prisão tendo em vista o cumprimento de penas
impostas no distrito (prisão que não
atenderia mais do que 100 detentos).
Essa proposta não foi além, porque
Ademar de Barros, que sucedeu a
Carvalho Pinto, não se interessou em
aprová-la e implementá-la.
Pois bem. Hoje, a cidade de São
Paulo, com mais de 10 milhões de habitantes, convive com fóruns centralizados e uns poucos fóruns regionais,
incapazes de atender a sua população,
estimulando, no campo penal, a impunidade, que é a mola propulsora da
violência.
A Justiça atual se caracteriza pela
burocratização. Os juízes vão ao fórum entre 13h e 17h, quando dão andamento aos processos, sem nenhum
contato com seus jurisdicionados.
São funcionários, e não juízes, como
deveriam se qualificar.
São Paulo elegerá, em breve, seu governador. Seria importante que o novo chefe do Executivo paulista retomasse essa idéia, nem que fosse para
fazer uma experiência-piloto, numa
área demarcada à guisa de um distrito. Nela, atuariam membros da magistratura, do Ministério Público, da
polícia e do setor penitenciário, e eles
exerceriam competência plena -civil
e criminal.
Quem sabe essa experiência poderia ser o começo de um novo sistema
de distribuição da Justiça, inclusive
do ponto de vista prisional.
O candidato eleito o dirá.
HÉLIO BICUDO, 84, advogado e jornalista, é presidente da
Fundação Interamericana de Defesa dos Direitos Humanos. Foi vice-prefeito do município de São Paulo (gestão
Marta Suplicy), deputado federal pelo PT-SP (1990-94 e
1995-98). É autor de "Meu Depoimento sobre o Esquadrão
da Morte", entre outros livros.
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