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Cresce a crise
Turbulência financeira global, que ameaça Bolsa e exportações no Brasil, deve reforçar freio que BC tenta impor à economia
A
SSISTIU-SE nesta semana ao recrudescimento
da crise financeira global. Houve mais uma
rodada expressiva de perdas nas
principais Bolsas do mundo e
nos mercados de produtos básicos, as chamadas commodities.
Os indícios de desaceleração das
economias industrializadas aumentaram. Em agosto, nos EUA
se fecharam mais 84 mil vagas de
trabalho e a taxa de desemprego
subiu para 6,1%. A debilidade se
estende para a Europa e o Japão.
Reflexos sobre o Brasil já se divisam. O menor crescimento de
países que são mercados importantes para nossas exportações
ajuda a explicar por que os volumes embarcados estagnaram. Os
preços das commodities que exportamos -os quais evoluíam favoravelmente, sustentando o aumento do valor das vendas externas do país- começam a cair.
Em paralelo, a crise nos países
ricos estimulou a aversão ao risco nos aplicadores internacionais. Passaram a vender papéis
de países em desenvolvimento,
sobretudo dos exportadores de
commodities. A saída de investidores estrangeiros vem determinando a queda na Bovespa.
A despeito disso, vários elementos indicam que o impacto
de uma crise global na economia
brasileira tende a ser menor do
que foi durante o período 1981-2003. Naquelas ocasiões o Estado brasileiro era altamente devedor em moeda estrangeira.
Hoje, ao contrário, o governo é
credor em dólar: as reservas internacionais do Banco Central
são maiores do que a dívida pública em moeda estrangeira. As
empresas brasileiras também estão menos endividadas no exterior do que no passado. Além disso, os bancos domésticos não se
envolveram com as operações altamente especulativas que agora
cobram seu preço na forma de
uma grave turbulência.
Em outras palavras, a economia nacional está menos conectada ao epicentro da crise financeira, o que vai permitir ao país
navegar melhor no mar revolto.
Isso não significa, contudo, que o
Brasil sairá ileso. O mais provável é que a economia brasileira
passe por um processo de moderação em seu ritmo de crescimento, por conta da perda de ímpeto das exportações e do encarecimento do crédito, tanto externo como doméstico.
Quanto a esse último fator, é
importante notar que a evolução
dos empréstimos no país ainda
não deu sinais nítidos de arrefecimento. Entre julho de 2007 e
julho de 2008, o financiamento
para as empresas, com recursos
livremente pactuados entre as
partes, expandiu-se 41%. Já os
empréstimos às pessoas físicas
cresceram a uma taxa menor,
mas expressiva: 30,7%. Nos dois
segmentos, a modalidade que
apresentou o maior ritmo de
crescimento foi o leasing. Essas
operações com pessoas físicas
expandiram 141,7%; com as corporações, 78,4%.
A continuidade do crescimento vigoroso do crédito ocorre a
despeito do pretendido pelo
Banco Central, que desde abril
vem elevando a taxa básica de juros, preocupado com a alta da inflação. É provável que o ambiente externo mais turvo reforce os
efeitos do freio que o BC tenta
impor à demanda interna.
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