São Paulo, sábado, 06 de setembro de 2008

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Cresce a crise

Turbulência financeira global, que ameaça Bolsa e exportações no Brasil, deve reforçar freio que BC tenta impor à economia

A SSISTIU-SE nesta semana ao recrudescimento da crise financeira global. Houve mais uma rodada expressiva de perdas nas principais Bolsas do mundo e nos mercados de produtos básicos, as chamadas commodities. Os indícios de desaceleração das economias industrializadas aumentaram. Em agosto, nos EUA se fecharam mais 84 mil vagas de trabalho e a taxa de desemprego subiu para 6,1%. A debilidade se estende para a Europa e o Japão.
Reflexos sobre o Brasil já se divisam. O menor crescimento de países que são mercados importantes para nossas exportações ajuda a explicar por que os volumes embarcados estagnaram. Os preços das commodities que exportamos -os quais evoluíam favoravelmente, sustentando o aumento do valor das vendas externas do país- começam a cair.
Em paralelo, a crise nos países ricos estimulou a aversão ao risco nos aplicadores internacionais. Passaram a vender papéis de países em desenvolvimento, sobretudo dos exportadores de commodities. A saída de investidores estrangeiros vem determinando a queda na Bovespa.
A despeito disso, vários elementos indicam que o impacto de uma crise global na economia brasileira tende a ser menor do que foi durante o período 1981-2003. Naquelas ocasiões o Estado brasileiro era altamente devedor em moeda estrangeira.
Hoje, ao contrário, o governo é credor em dólar: as reservas internacionais do Banco Central são maiores do que a dívida pública em moeda estrangeira. As empresas brasileiras também estão menos endividadas no exterior do que no passado. Além disso, os bancos domésticos não se envolveram com as operações altamente especulativas que agora cobram seu preço na forma de uma grave turbulência.
Em outras palavras, a economia nacional está menos conectada ao epicentro da crise financeira, o que vai permitir ao país navegar melhor no mar revolto. Isso não significa, contudo, que o Brasil sairá ileso. O mais provável é que a economia brasileira passe por um processo de moderação em seu ritmo de crescimento, por conta da perda de ímpeto das exportações e do encarecimento do crédito, tanto externo como doméstico.
Quanto a esse último fator, é importante notar que a evolução dos empréstimos no país ainda não deu sinais nítidos de arrefecimento. Entre julho de 2007 e julho de 2008, o financiamento para as empresas, com recursos livremente pactuados entre as partes, expandiu-se 41%. Já os empréstimos às pessoas físicas cresceram a uma taxa menor, mas expressiva: 30,7%. Nos dois segmentos, a modalidade que apresentou o maior ritmo de crescimento foi o leasing. Essas operações com pessoas físicas expandiram 141,7%; com as corporações, 78,4%.
A continuidade do crescimento vigoroso do crédito ocorre a despeito do pretendido pelo Banco Central, que desde abril vem elevando a taxa básica de juros, preocupado com a alta da inflação. É provável que o ambiente externo mais turvo reforce os efeitos do freio que o BC tenta impor à demanda interna.


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