São Paulo, sábado, 06 de setembro de 2008

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CLÓVIS ROSSI

Acreditar que é possível

SÃO PAULO - Memória é um bicho muito traiçoeiro, mas, ainda assim, arrisco-me a dizer que a campanha eleitoral paulistana deste ano é a mais, digamos, normal desde a volta das eleições diretas para as capitais, em 1985.
Não há o anúncio de uma nova era, de um ano zero, a partir da vitória de xis ou y. Acho que o Brasil se cansou das constantes pregações de "Nova República" (o rótulo, vazio, com que se elegeram Tancredo Neves e José Sarney) ou de reconstrução nacional, nome até do partido que conduziu Fernando Collor à vitória, em 1989, ou de outras grandiloqüências do gênero.
Desta vez, ao contrário, o eixo da campanha, se devidamente desossado das inevitáveis demagogias, promessas etc., é, pelo menos na minha cabeça, o de melhorar o que está funcionando. Vão nessa direção todos os três candidatos até agora mais fortes (Marta Suplicy, Geraldo Alckmin e Gilberto Kassab). Claro que todos eles prometem, além de aperfeiçoar o existente, lançar novidades. É próprio de campanha eleitoral, aqui ou no Cazaquistão. Decorrência do eixo antes citado, há também o fato de que não se faz a demolição integral do passado, igualmente habitual em campanhas anteriores. O que é explicável: todos os quatro principais candidatos já governaram ou a cidade (Marta, Kassab e Maluf) ou o Estado (Alckmin e Maluf). Logo, demolir o passado seria demolir ao menos parte de sua própria obra.
O caráter normal da campanha tem vantagens, claro, mas tem a desvantagem de levar à mesmice. Vale, creio, observação de Mark Schmitt, editor-executivo de "American Prospect", bissemanal da, digamos, esquerda americana, sobre a eleição nos EUA : "As pessoas querem ouvir um bocado mais sobre o que você faria para mudar nosso futuro -não por que queiram saber detalhes, mas porque querem acreditar que é possível".

crossi@uol.com.br



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