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CLÓVIS ROSSI
Acreditar que é possível
SÃO PAULO - Memória é um bicho muito traiçoeiro, mas, ainda assim, arrisco-me a dizer que a campanha eleitoral paulistana deste
ano é a mais, digamos, normal desde a volta das eleições diretas para
as capitais, em 1985.
Não há o anúncio de uma nova
era, de um ano zero, a partir da vitória de xis ou y. Acho que o Brasil se
cansou das constantes pregações de
"Nova República" (o rótulo, vazio,
com que se elegeram Tancredo Neves e José Sarney) ou de reconstrução nacional, nome até do partido
que conduziu Fernando Collor à vitória, em 1989, ou de outras grandiloqüências do gênero.
Desta vez, ao contrário, o eixo da
campanha, se devidamente desossado das inevitáveis demagogias,
promessas etc., é, pelo menos na
minha cabeça, o de melhorar o que
está funcionando. Vão nessa direção todos os três candidatos até
agora mais fortes (Marta Suplicy,
Geraldo Alckmin e Gilberto Kassab). Claro que todos eles prometem, além de aperfeiçoar o existente, lançar novidades. É próprio de
campanha eleitoral, aqui ou no Cazaquistão.
Decorrência do eixo antes citado,
há também o fato de que não se faz a
demolição integral do passado,
igualmente habitual em campanhas anteriores. O que é explicável:
todos os quatro principais candidatos já governaram ou a cidade (Marta, Kassab e Maluf) ou o Estado
(Alckmin e Maluf). Logo, demolir o
passado seria demolir ao menos
parte de sua própria obra.
O caráter normal da campanha
tem vantagens, claro, mas tem a
desvantagem de levar à mesmice.
Vale, creio, observação de Mark
Schmitt, editor-executivo de "American Prospect", bissemanal da, digamos, esquerda americana, sobre
a eleição nos EUA : "As pessoas querem ouvir um bocado mais sobre o
que você faria para mudar nosso futuro -não por que queiram saber
detalhes, mas porque querem acreditar que é possível".
crossi@uol.com.br
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