São Paulo, terça-feira, 06 de setembro de 2011

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Desbalanço global

Após duas semanas de trégua, os mercados voltaram a ser sacudidos, agora por mais uma decepção na criação de empregos nos EUA -em agosto, não houve abertura líquida de vagas. Ao mesmo tempo, continuam as revisões para baixo do crescimento na Europa, na China e também no Brasil.
No caso europeu, o problema é agravado pela incerteza sobre os próximos passos para conter a crise que se alastra. Os juros cobrados de Itália e Espanha atingiram novas máximas, alimentando a espiral de contágio nos bancos, cujas ações continuam a cair.
Ao longo deste mês, a maioria dos Parlamentos europeus ratificará os novos poderes concedidos ao fundo de estabilização, de 440 bilhões. Esse dinheiro poderá servir de garantia de dívidas bancárias ou ser injetado diretamente em bancos descapitalizados.
Esperam-se também para breve mais detalhes sobre a disposição do setor privado de aderir ao plano de socorro à Grécia, sem a qual o acordo não se sustentará. Por fim, são aguardadas as votações dos pacotes de arrocho fiscal na Itália e na Espanha. Estão no horizonte, assim, várias frentes de incerteza, capazes de abalar a finança global nas próximas semanas.
A diretora-geral do FMI, Christine Lagarde, tem alertado em suas falas para dois grandes desequilíbrios que ameaçam a economia mundial. O primeiro é o legado não digerido da dívida nos países centrais. Nos EUA, persiste a tendência de queda nos preços dos imóveis, o que dificulta a recuperação da atividade, pois mantém e aprofunda o problema do endividamento do consumidor.
Na Europa, o FMI advoga mais agressividade na injeção de capital nos bancos, para que não sucumbam em decorrência das soluções que vêm sendo adotadas para as dívidas de países periféricos.
O segundo problema é a dificuldade de equilibrar a demanda. China e Alemanha, que produzem muito mais do que consomem, deveriam inverter a equação e consumir mais. Dariam vazão à recuperação da atividade nos EUA, nação que, embora venha consumindo muito mais que produz, agora está impedida de continuar gastando por conta de sua dívida.
O mundo avançou pouco, desde a eclosão da crise de 2008, na dissolução desses dois gargalos mencionados pela diretora do FMI. Daí resulta a nova diminuição do crescimento global, com ameaça de recaída na recessão. De um lado, os países centrais permanecem presos na armadilha das dívidas não resolvidas e do baixo crescimento. De outro, os periféricos enfrentam sequelas, como a inflação, de um aquecimento além de sua capacidade.
Sair dessa encruzilhada o mais rápido possível, e com o mínimo de avarias, exige um grau de coordenação global talvez só visto ao final da Segunda Guerra.


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