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Desbalanço global
Após duas semanas de trégua,
os mercados voltaram a ser sacudidos, agora por mais uma decepção na criação de empregos nos
EUA -em agosto, não houve abertura líquida de vagas. Ao mesmo
tempo, continuam as revisões para baixo do crescimento na Europa, na China e também no Brasil.
No caso europeu, o problema é
agravado pela incerteza sobre os
próximos passos para conter a crise que se alastra. Os juros cobrados de Itália e Espanha atingiram
novas máximas, alimentando a
espiral de contágio nos bancos,
cujas ações continuam a cair.
Ao longo deste mês, a maioria
dos Parlamentos europeus ratificará os novos poderes concedidos
ao fundo de estabilização, de
440 bilhões. Esse dinheiro poderá
servir de garantia de dívidas bancárias ou ser injetado diretamente
em bancos descapitalizados.
Esperam-se também para breve
mais detalhes sobre a disposição
do setor privado de aderir ao plano de socorro à Grécia, sem a qual
o acordo não se sustentará. Por
fim, são aguardadas as votações
dos pacotes de arrocho fiscal na
Itália e na Espanha. Estão no horizonte, assim, várias frentes de incerteza, capazes de abalar a finança global nas próximas semanas.
A diretora-geral do FMI, Christine Lagarde, tem alertado em suas
falas para dois grandes desequilíbrios que ameaçam a economia
mundial. O primeiro é o legado
não digerido da dívida nos países
centrais. Nos EUA, persiste a tendência de queda nos preços dos
imóveis, o que dificulta a recuperação da atividade, pois mantém e
aprofunda o problema do endividamento do consumidor.
Na Europa, o FMI advoga mais
agressividade na injeção de capital nos bancos, para que não sucumbam em decorrência das soluções que vêm sendo adotadas para as dívidas de países periféricos.
O segundo problema é a dificuldade de equilibrar a demanda.
China e Alemanha, que produzem
muito mais do que consomem, deveriam inverter a equação e consumir mais. Dariam vazão à recuperação da atividade nos EUA, nação que, embora venha consumindo muito mais que produz,
agora está impedida de continuar
gastando por conta de sua dívida.
O mundo avançou pouco, desde a eclosão da crise de 2008, na
dissolução desses dois gargalos
mencionados pela diretora do
FMI. Daí resulta a nova diminuição do crescimento global, com
ameaça de recaída na recessão. De
um lado, os países centrais permanecem presos na armadilha das
dívidas não resolvidas e do baixo
crescimento. De outro, os periféricos enfrentam sequelas, como a
inflação, de um aquecimento
além de sua capacidade.
Sair dessa encruzilhada o mais
rápido possível, e com o mínimo
de avarias, exige um grau de coordenação global talvez só visto ao
final da Segunda Guerra.
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