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São Paulo, segunda-feira, 06 de outubro de 2003

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RISCO DE FRUSTRAÇÃO

Nos últimos meses, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criou uma série de fatos políticos em torno de projetos voltados para as classes de baixa renda. É o Fome Zero para acabar de uma vez com a miséria, o microcrédito para solucionar o acesso de pequenas empresas a financiamentos, o empréstimo com desconto em folha salarial para resolver a questão dos juros cobrados pelos bancos a pessoas físicas, o Estatuto do Idoso para atender aos mais velhos e assim por diante.
Produz-se, com isso, a sensação de que respostas de vulto estão sendo dadas a grandes temas que afligem os mais pobres, o que não deixa de ser conveniente num momento em que os efeitos do forte ajuste econômico promovido pelo governo continuam gerando desemprego e dificultando a economia real.
Programas desse tipo são, evidentemente, desejáveis, desde que sejam realistas e funcionem. A realidade do país é bastante complexa e sua transformação não se fará apenas com anúncios bombásticos. Sem coordenação, políticas bem estruturadas, persistência e recursos, algumas dessas ações de impacto correm o risco de simplesmente cair no vazio.
É o que parece estar acontecendo, por exemplo, com o chamado Plano Safra, que destinaria, ainda neste ano, R$ 5,4 bilhões para apoiar a agricultura familiar. Até a semana passada, apenas R$ 508 milhões haviam sido liberados pelo governo. "A expectativa está cedendo lugar à decepção", declarou o sindicalista Luiz Marinho, presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, em carta aberta a Lula.
Gerar frustrações é justamente o risco político que corre o governo ao anunciar "soluções" que esbarram, entre outros obstáculos, na ineficiência de sua própria administração. Por mais que o presidente saiba comunicar-se e que a população se mostre disposta a conceder tempo para que as realizações apareçam, haverá sempre um momento em que a conta será cobrada.


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