|
Próximo Texto | Índice
RISCO DE FRUSTRAÇÃO
Nos últimos meses, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
criou uma série de fatos políticos em
torno de projetos voltados para as
classes de baixa renda. É o Fome Zero para acabar de uma vez com a miséria, o microcrédito para solucionar
o acesso de pequenas empresas a financiamentos, o empréstimo com
desconto em folha salarial para resolver a questão dos juros cobrados
pelos bancos a pessoas físicas, o Estatuto do Idoso para atender aos
mais velhos e assim por diante.
Produz-se, com isso, a sensação de
que respostas de vulto estão sendo
dadas a grandes temas que afligem
os mais pobres, o que não deixa de
ser conveniente num momento em
que os efeitos do forte ajuste econômico promovido pelo governo continuam gerando desemprego e dificultando a economia real.
Programas desse tipo são, evidentemente, desejáveis, desde que sejam
realistas e funcionem. A realidade do
país é bastante complexa e sua transformação não se fará apenas com
anúncios bombásticos. Sem coordenação, políticas bem estruturadas,
persistência e recursos, algumas dessas ações de impacto correm o risco
de simplesmente cair no vazio.
É o que parece estar acontecendo,
por exemplo, com o chamado Plano
Safra, que destinaria, ainda neste
ano, R$ 5,4 bilhões para apoiar a
agricultura familiar. Até a semana
passada, apenas R$ 508 milhões haviam sido liberados pelo governo. "A
expectativa está cedendo lugar à decepção", declarou o sindicalista Luiz
Marinho, presidente do Conselho
Nacional de Segurança Alimentar e
Nutricional, em carta aberta a Lula.
Gerar frustrações é justamente o
risco político que corre o governo ao
anunciar "soluções" que esbarram,
entre outros obstáculos, na ineficiência de sua própria administração. Por
mais que o presidente saiba comunicar-se e que a população se mostre
disposta a conceder tempo para que
as realizações apareçam, haverá
sempre um momento em que a conta será cobrada.
Próximo Texto: Editoriais: REGRESSÃO LATINA Índice
|