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São Paulo, segunda-feira, 06 de outubro de 2003

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REGRESSÃO LATINA

Nos últimos anos, caíram por terra praticamente todos os postulados que o consenso ultraliberal de Washington fabricou para os países em desenvolvimento. Confirmou-se a mais crua geopolítica de resultados. E o principal deles, nessas últimas duas décadas de "ajuste estrutural" patrocinado pelo FMI e por seus sócios mais ricos, foi a regressão econômica.
A maioria dos países latino-americanos, a começar pela principal economia da região, a do Brasil, sofreu um importante processo de "desindustrialização". Essa é a constatação da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) em amplo estudo recentemente divulgado.
Talvez o "destino manifesto" da região seja mesmo o de funcionar como um anexo secundário da economia norte-americana. Afinal, embora o retrocesso também resulte de fatores globais, o impacto sobre as economias asiáticas não foi tão ruim. Diferentemente do que ocorreu com países latino-americanos, na Ásia houve aumento da participação de produtos industrializados no PIB e nas exportações.
Outra característica das últimas duas décadas na América Latina foi a sucessão de planos de estabilização "heterodoxos", que, fazendo do combate à inflação uma prioridade absoluta, contribuíram para o enfraquecimento da capacidade produtiva e para a desarticulação de iniciativas da esfera pública. Além disso, a febre ultraliberal levou mais pobreza e criminalidade aos latino-americanos.
Não é de estranhar, portanto, que tenha ocorrido uma depressão dos investimentos e a elevação do desemprego estrutural. O Brasil, com desemprego recorde de 13%, viu a participação de produtos industrializados no PIB cair de 32,6%, nos anos 80, para 23,7% na década seguinte. Infelizmente, a regressão ultraliberal, que deixou consequências graves para os países da região, é uma herança cuja superação, até mesmo como projeto ou utopia, ainda não foi adequadamente formulada pelos governos latino-americanos.


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