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REGRESSÃO LATINA
Nos últimos anos, caíram por
terra praticamente todos os
postulados que o consenso ultraliberal de Washington fabricou para os
países em desenvolvimento. Confirmou-se a mais crua geopolítica de resultados. E o principal deles, nessas
últimas duas décadas de "ajuste estrutural" patrocinado pelo FMI e por
seus sócios mais ricos, foi a regressão econômica.
A maioria dos países latino-americanos, a começar pela principal economia da região, a do Brasil, sofreu
um importante processo de "desindustrialização". Essa é a constatação
da Unctad (Conferência das Nações
Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) em amplo estudo recentemente divulgado.
Talvez o "destino manifesto" da região seja mesmo o de funcionar como um anexo secundário da economia norte-americana. Afinal, embora o retrocesso também resulte de fatores globais, o impacto sobre as
economias asiáticas não foi tão
ruim. Diferentemente do que ocorreu com países latino-americanos,
na Ásia houve aumento da participação de produtos industrializados no
PIB e nas exportações.
Outra característica das últimas
duas décadas na América Latina foi a
sucessão de planos de estabilização
"heterodoxos", que, fazendo do
combate à inflação uma prioridade
absoluta, contribuíram para o enfraquecimento da capacidade produtiva
e para a desarticulação de iniciativas
da esfera pública. Além disso, a febre
ultraliberal levou mais pobreza e criminalidade aos latino-americanos.
Não é de estranhar, portanto, que
tenha ocorrido uma depressão dos
investimentos e a elevação do desemprego estrutural. O Brasil, com desemprego recorde de 13%, viu a participação de produtos industrializados no PIB cair de 32,6%, nos anos
80, para 23,7% na década seguinte.
Infelizmente, a regressão ultraliberal, que deixou consequências graves
para os países da região, é uma herança cuja superação, até mesmo como projeto ou utopia, ainda não foi
adequadamente formulada pelos governos latino-americanos.
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