São Paulo, quarta-feira, 06 de outubro de 2004

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UMA PAUSA NOS JUROS

Há três semanas, ao anunciar que havia decidido aumentar em 0,25 ponto percentual a taxa básica de juros, o Banco Central praticamente anunciou que pretendia determinar novos aumentos a partir de outubro. Seu comunicado oficial informou que se tratava do "início de um processo de ajuste moderado da taxa", e explicitava que três dos oito membros do Comitê de Política Monetária haviam votado por uma elevação de meio ponto.
Desde então, no entanto, os resultados da inflação têm se revelado sistematicamente mais favoráveis do que esperavam os bancos e consultorias que se dedicam a antecipar os rumos dos índices de preços.
A primeira surpresa positiva foi trazida pelo IPCA-15 de setembro, cuja elevação limitou-se a 0,49%, ante 0,79% em agosto. O IPCA-15 é um índice de preços quase idêntico ao IPCA, que baliza as metas de inflação, diferindo apenas por se basear em informações coletadas 15 dias antes. Outros números favoráveis vieram com o IGP-M de setembro. Esse índice teve alta de 0,69%, bem abaixo da expectativa do mercado (que era de 0,92%). Para completar, ontem divulgou-se que o IPC-Fipe, índice que mede a inflação ao consumidor em São Paulo, teve elevação de apenas 0,21% em setembro, taxa 0,2 ponto percentual inferior à esperada.
Também favorável é o fato de que o comportamento das expectativas de inflação já mudou. Desde o anúncio da elevação dos juros básicos, em 15 de setembro, a projeção média para a inflação de 2004 diminuiu ligeiramente, e as previsões para 2005 tiveram aumento quase desprezível.
Essa última constatação é indicativa de que a mudança da política monetária já teve efeitos. Ademais, a cotação do dólar tem se mantido e a alta do petróleo, embora incômoda, é o típico choque de custos que cabe acomodar para não sacrificar desnecessariamente o crescimento.
Todos esses elementos sugerem que o BC poderia dar uma pausa no seu prometido aperto monetário e aguardar os resultados. O BC sempre teme errar por falta de rigor antiinflacionário -mas corre o risco de novamente errar por excesso.


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