São Paulo, quarta-feira, 06 de outubro de 2004

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O "APOIO" DE POWELL

Em visita a São Paulo, o secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, disse o óbvio: no contexto de uma reforma do Conselho de Segurança (CS) das Nações Unidas, o Brasil é "sólido candidato" a tornar-se membro permanente. Isso está em qualquer texto jornalístico que trate da reformulação do CS. Os "sólidos candidatos" sempre lembrados são Alemanha, Japão, Brasil, Índia e África do Sul. A rigor, o chefe da diplomacia norte-americana nem chegou a afirmar que Washington apóia a reivindicação brasileira.
Certamente que o local e a hora escolhidos para dizer o óbvio fazem a diferença e podem transformar o banal em algo relevante. Aí reside a arte da diplomacia. O que o secretário Powell deixou de dizer é que uma eventual ampliação das vagas permanentes no CS dificilmente daria aos novos membros o tão prestigiado poder de veto. Com efeito, aumentar o número de países com representação permanente no Conselho e outorgar-lhes o direito de vetar resoluções significaria condenar a organização ao imobilismo. Como também é improvável que os atuais membros permanentes abram mão da prerrogativa de que dispõem, o mais lógico é supor que a reforma do CS teria um caráter mais simbólico do que prático.
Continuariam existindo cinco nações mais poderosas (com direito a veto), outras com menor força (representação permanente, mas sem o veto) e o restante dos países. O Brasil, se tudo sair como quer o governo, ficaria no segundo grupo.
Embora a idéia da reforma ainda esteja em estágio muito embrionário, parece razoável afirmar que o Brasil ganharia prestígio internacional como membro permanente. Também é certo que o país precisaria participar mais ativamente da ONU, incorrendo em maiores gastos.
Antes que o ufanismo prospere, convém aguardar que se definam os contornos da reformulação. Só então será possível avaliar suas conseqüências práticas e políticas.


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