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República do jeitinho
Uma pane no sistema de agendamento eletrônico para a emissão de passaportes permitiu ao
Ministério Público Federal obter
indícios da existência, na Polícia
Federal, de uma prática tão antiga
e tão presente no cotidiano dos cidadãos quanto o Estado brasileiro: a venda de facilidades e privilégios em serviços públicos.
Por meio de despachantes, funcionários da Procuradoria conseguiram marcar as entrevistas necessárias para obter o documento,
apesar do "apagão" no agendamento feito pela internet, na semana passada.
Em princípio, o meio eletrônico
deveria ser o único habilitado para a obtenção do serviço. "Não
existe nenhum outro sistema, nenhuma outra porta", garante o delegado responsável pelo Núcleo
de Passaportes da PF.
Compete às investigações do
Ministério Público e à Justiça esclarecer se existe ou não a concessão de privilégio mediante pagamento nesse setor da Polícia Federal. Se não houver, a instituição
deve ser celebrada como uma
honrosa exceção no país. Pois parece uma regra nacional recorrer a
profissionais do jeitinho para obter documentos e outros papéis
com a presteza que deveria ser
oferecida por caminhos regulares.
Como na pequena corrupção do
guarda de trânsito, furar a fila do
atendimento ao público nem sempre resulta do livre desígnio de um
cidadão eticamente questionável.
Nos dois casos se confunde o interesse de quem corrompe com a
coerção da autoridade que exige
paga para cumprir ou deixar de
cumprir a lei.
A via normal, em que todos são
iguais perante a lei e as instituições públicas, muitas vezes se encontra obstruída por ineficiências
e excessos burocráticos. Ao cidadão resta a escolha de comprar o
favor ou ver prejudicado seu acesso ao Estado.
A melhor maneira de enfrentar
esse arcaísmo antirrepublicano é
aumentar a qualidade dos serviços prestados ao público e combater a ação de grupos interessados
em criar dificuldades para atuar
como atravessadores.
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