São Paulo, quinta-feira, 06 de outubro de 2011

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RICARDO MELO

Casa de tolerância

SÃO PAULO - Com as exceções de praxe, a Assembleia Legislativa de SP é uma daquelas instituições pouco lembradas por iniciativas marcantes para os cidadãos. Mas o que lhe falta em contribuições institucionais sobra em transações obscuras e denúncias de gatunagem.
A Casa foi palco até de um rumoroso "escândalo das calcinhas", em que um ex-presidente torrou dinheiro público em peças de lingerie (quem se interessar pode acessar acervo.folha.com.br/fsp/1976/12/03/2).
Os anos passaram, os métodos mudaram, assim como as calcinhas, mas a coisa não melhorou no Ibirapuera. Agora, um deputado compara o Legislativo a uma praça de ambulantes. "Isso é igual a camelô, cada um vende de um jeito", disse Roque Barbiere (PTB). "Cada um tem uma maneira, cada um tem um preço."
O alvo de Barbiere, pelo menos o declarado, é o comércio de emendas, esquema consagrado no próprio Congresso. Para embolsar a comissãozinha de cada dia, parlamentares negociam "projetos" com governos, ONGs e empresas diversas, atacam o Tesouro e posam de benfeitores.
Por que Barbiere demorou tanto para denunciar? Ingênuo ele não é. Como ele mesmo diz, tem 32 anos de janela em vários cargos; elegeu-se deputado seis vezes. Questionado sobre responsabilidades, retrucou mais como chantagista do que como alguém interessado em purificar o ambiente: "Nenhum nome, nem com o revólver na cabeça".
A atitude esquiva não obscurece a gravidade das denúncias. O mensalão ensina que casos assim sobem à tona quando interesses de favorecidos -por ação ou omissão- são contrariados no trajeto.
Resta saber se as investigações vão avançar. Os tucanos, que controlam a Assembleia e o governo estadual, arrepiam as penas quando ouvem falar de CPIs em seu poleiro. Os demais partidos, por motivos mais do que suspeitos, não se mostram entusiasmados em acender a luz. Com a palavra, o Ministério Público.


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