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VINICIUS TORRES FREIRE
Fagueiros e façanhudos
SÃO PAULO - O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, voltou a
se congratular pelo fato de a economia agora obter dólares bastantes
para pagar as contas do país no exterior, o dito superávit estrutural nas
contas externas. Os economistas de
Lula estão assim, fagueiros e façanhudos com o fim da recessão e com
a exportação recorde, que traz os dólares aqueles que pagam compras e
dívidas externas.
Mas a proeza comercial (que nem
de Lula é) pode estar abafando mais
imprudência e omissão da política
econômica. "Superávit estrutural",
em resumo simplificado, significa
que não é preciso desvalorizar o real
uma enormidade (isto é, o dólar ficar
bem mais caro) nem o país estar em
recessão (importando, comprando
menos no exterior, por falta de dinheiro) para obter um bom saldo de
dólares (diferença entre o que o país
paga em compras e juros no exterior
e o que vende lá fora).
O fato é que não se sabe muito bem
o que vai ocorrer se o país crescer uns
3%, 4%. Neste ano, muito economista já errou mais que o de costume sobre exportações, recessão etc. Se o
país crescer mesmo, vai importar
muito, exportar menos (consumir demais aqui o que poderia exportar)? A
que taxa de câmbio?
O governo deixou o dólar ficar barato -veremos logo se barato demais. Poderia ter influenciado o mercado a cotar o dólar a uns R$ 3,10,
pois a inflação do câmbio já estava
nos preços. Poderia ter matado vários
coelhos numa paulada só: diminuir
bem a dívida em dólar, aumentar
bem a reservas de moeda forte e, assim, deixar o dólar em patamar mais
seguro para as contas externas. Isto é,
facilitar a vida do exportador e barrar um pouco as importações.
Anteontem, o governo tomou medida apenas homeopática para segurar o dólar. Empresários, banqueiros
e economistas sensatos têm alertado
a equipe de Lula sobre essa imitação
boba do liberalismo de fancaria da
equipe de FHC. Ainda que a economia do país seja hoje mais eficiente e
exportadora, um dólar em nível mais
seguro reduziria o risco de estresse
cambial. Cadê a prudência?
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