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São Paulo, quinta-feira, 06 de novembro de 2003

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VINICIUS TORRES FREIRE

Fagueiros e façanhudos

SÃO PAULO - O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, voltou a se congratular pelo fato de a economia agora obter dólares bastantes para pagar as contas do país no exterior, o dito superávit estrutural nas contas externas. Os economistas de Lula estão assim, fagueiros e façanhudos com o fim da recessão e com a exportação recorde, que traz os dólares aqueles que pagam compras e dívidas externas.
Mas a proeza comercial (que nem de Lula é) pode estar abafando mais imprudência e omissão da política econômica. "Superávit estrutural", em resumo simplificado, significa que não é preciso desvalorizar o real uma enormidade (isto é, o dólar ficar bem mais caro) nem o país estar em recessão (importando, comprando menos no exterior, por falta de dinheiro) para obter um bom saldo de dólares (diferença entre o que o país paga em compras e juros no exterior e o que vende lá fora).
O fato é que não se sabe muito bem o que vai ocorrer se o país crescer uns 3%, 4%. Neste ano, muito economista já errou mais que o de costume sobre exportações, recessão etc. Se o país crescer mesmo, vai importar muito, exportar menos (consumir demais aqui o que poderia exportar)? A que taxa de câmbio?
O governo deixou o dólar ficar barato -veremos logo se barato demais. Poderia ter influenciado o mercado a cotar o dólar a uns R$ 3,10, pois a inflação do câmbio já estava nos preços. Poderia ter matado vários coelhos numa paulada só: diminuir bem a dívida em dólar, aumentar bem a reservas de moeda forte e, assim, deixar o dólar em patamar mais seguro para as contas externas. Isto é, facilitar a vida do exportador e barrar um pouco as importações.
Anteontem, o governo tomou medida apenas homeopática para segurar o dólar. Empresários, banqueiros e economistas sensatos têm alertado a equipe de Lula sobre essa imitação boba do liberalismo de fancaria da equipe de FHC. Ainda que a economia do país seja hoje mais eficiente e exportadora, um dólar em nível mais seguro reduziria o risco de estresse cambial. Cadê a prudência?


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