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Vícios tolerados
FICAM LONGE de animadores
os resultados de uma pesquisa de opinião sobre ética
realizada pela Universidade de
Brasília entre cidadãos de todo o
país e também com servidores
públicos de sete unidades federativas. Só 59% dos entrevistados na população geral disseram
ser éticos; 26% declararam que
não, e outros 13%, às vezes.
Entre servidores públicos, variam as cifras, mas não o panorama: 51% "éticos", 19% "não-éticos" e 22%, às vezes. Pode-se argumentar, com razão, que o conceito comum sobre ética é vago,
quase vazio. Um terço dos que já
ouviram falar disso alegam não
saber do que se trata.
Abstrações à parte, a consulta
abrangeu também situações
muito presentes, como o nepotismo. No plano sociológico, pode-se até compreender que 32%
dos servidores avaliem a prática
como permissível. Afinal, são
seus maiores beneficiários: 37%
obtiveram o emprego público
por indicação de parentes, políticos ou amigos, e menos da metade por concurso (44%).
Bem mais inquietante é a popularidade do nepotismo entre
cidadãos comuns. Metade dos
ouvidos afirmou que contrataria
parentes para um cargo público,
se tivessem oportunidade. A população parece inclinar-se por
chancelar, na esfera privada, o
que condena na vida pública.
Essa contradição é uma das
marcas da vida nacional -e provavelmente se verifica, em graus
variados, em outros países. Cabe
à lei o papel de conter as inclinações pessoais. Deixadas à vontade, elas corroem a possibilidade
de uma nação percorrer o longo
caminho civilizatório.
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