São Paulo, quinta-feira, 06 de novembro de 2008

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Editoriais

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Vícios tolerados

FICAM LONGE de animadores os resultados de uma pesquisa de opinião sobre ética realizada pela Universidade de Brasília entre cidadãos de todo o país e também com servidores públicos de sete unidades federativas. Só 59% dos entrevistados na população geral disseram ser éticos; 26% declararam que não, e outros 13%, às vezes.
Entre servidores públicos, variam as cifras, mas não o panorama: 51% "éticos", 19% "não-éticos" e 22%, às vezes. Pode-se argumentar, com razão, que o conceito comum sobre ética é vago, quase vazio. Um terço dos que já ouviram falar disso alegam não saber do que se trata.
Abstrações à parte, a consulta abrangeu também situações muito presentes, como o nepotismo. No plano sociológico, pode-se até compreender que 32% dos servidores avaliem a prática como permissível. Afinal, são seus maiores beneficiários: 37% obtiveram o emprego público por indicação de parentes, políticos ou amigos, e menos da metade por concurso (44%).
Bem mais inquietante é a popularidade do nepotismo entre cidadãos comuns. Metade dos ouvidos afirmou que contrataria parentes para um cargo público, se tivessem oportunidade. A população parece inclinar-se por chancelar, na esfera privada, o que condena na vida pública.
Essa contradição é uma das marcas da vida nacional -e provavelmente se verifica, em graus variados, em outros países. Cabe à lei o papel de conter as inclinações pessoais. Deixadas à vontade, elas corroem a possibilidade de uma nação percorrer o longo caminho civilizatório.


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