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CLÓVIS ROSSI
Obama e Guantánamo
SÃO PAULO - Peço perdão antecipadamente aos que ainda se entusiasmam com política/políticos,
mas sou obrigado a olhar a eleição
de Barack Obama com os olhos de
um velho brasileiro cético, cansado
de ver surgirem promessas de "Nova República", "Reconstrução Nacional" e outras refundações da pátria, apenas para, na vida real, acabar tudo em mais do mesmo.
Claro que Obama pode ser diferente, mas, repito, a cor da pele e o
extraordinário que é eleger um negro nos Estados Unidos não significam que a mudança virá de fato.
O próprio Obama, no discurso da
vitória, já cuidou prudente e sabiamente de jogá-la para um futuro
talvez remoto. "O caminho à frente
será longo. Nossa subida será íngreme. Nós podemos não chegar lá em
um ano ou mesmo em um período
[presidencial]. Mas eu nunca estive
mais esperançoso como esta noite
de que chegaremos lá. Eu prometo
a vocês -nós-, como povo: chegaremos lá".
OK, Obama, tomara. Mas antes é
preciso que você defina o que é "lá",
o que é a "mudança". Antes ainda é
preciso entender se foi Obama (e
portanto a mudança) que ganhou
ou se foi Bush (e tudo o que ele significa, inclusive John McCain) que
perdeu.
Essa resposta não está disponível, mas há sinais desalentadores:
em quatro votações estaduais sobre
legislação a respeito de energia/
meio ambiente, a limpeza ambiental perdeu em três.
Significa que o tal de povo não parece lá muito disposto à mudança,
ao menos nesse quesito.
Se o presidente eleito está de fato
empenhado em uma mudança profunda, não precisa esperar um ano,
não precisa esperar todo os quatro
anos do mandato. Basta, no dia de
sua posse, em 20 de janeiro, anunciar o fechamento da prisão de
Guantánamo e a entrega de seus
prisioneiros ao sistema judicial.
Devolveria os EUA ao "rule of
law", primeiro e vital passo.
crossi@uol.com.br
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