São Paulo, sexta-feira, 06 de novembro de 2009

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Editoriais

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Resistência difícil

PARECEM interessantes as novas ideias acalentadas pela equipe econômica para tentar diminuir a velocidade em que o real se valoriza. Depois da implantação da tarifa de 2% para os estrangeiros que queiram investir em ações e outros títulos no Brasil, o objetivo agora é permitir que parte dessas aplicações seja feita fora do país.
A taxação na entrada de capitais tem efeitos colaterais. Se funcionar -isto é, se não for burlada pelo inesgotável acervo de dribles à disposição dos aplicadores globais-, prejudicará empresas brasileiras que não têm acesso ao mercado externo e contam com a entrada do capital estrangeiro, a fim de obterem recursos a custo mais baixo.
A própria Bovespa, um dos cinco maiores pregões do mundo, teria a atratividade reduzida no cotejo com Nova York -onde se adquirem ações brasileiras sem os 2% de imposto. A abordagem da nova safra de propostas ainda em estudo criaria menos arestas.
Estrangeiros, ao aplicarem no mercado de futuros da Bovespa, não precisariam depositar as garantias do negócio no Brasil. Poderiam fazê-lo em bancos fora do país. O Tesouro retomaria a emissão de dívida externa em reais, oferecendo condições próximas às de aplicações em títulos públicos domésticos, sem necessidade de trazer os dólares.
Não se deve esperar, contudo, mudança na tendência do câmbio com esse conjunto de medidas. No máximo, retardarão o ritmo da alta do real -mas até isso é difícil de saber, pois não se pode calcular qual teria sido o comportamento da moeda na ausência dessas iniciativas.
No mundo rico as aplicações financeiras, quer em empresas, quer na dívida pública, têm rendimento baixíssimo. No Brasil, já em crescimento acelerado, negócios privados prometem ganhos bem maiores, o governo paga juros ainda elevados e o câmbio flutua -à diferença do que ocorre na China, cuja moeda está ancorada à americana.
Diante dessa conjunção de fatores, é difícil resistir à corrente que valoriza o real.


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