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JOSÉ SARNEY
Lévi-Strauss
LÉVI-STRAUSS foi para o mundo cultural aquilo que representou Freud para a psicanálise, Einstein para a física, Marx para
as ideias políticas e ele para a antropologia. Era o maior intelectual
vivo do mundo, o grande pensador,
cuja contribuição para a humanidade derramou-se para todos os
campos do conhecimento humano,
especialmente para as ciências sociais, e o escritor insuperável.
Conheci pessoalmente Lévi-Strauss quando ele veio ao Brasil
em 1985, na companhia do presidente da França, Mitterrand. Eu
era presidente da República e com
ele estabeleci uma relação de devoto. Não posso dizer que tivemos
uma relação de amizade, mas um
relacionamento que não foi somente epistolar nesses 20 anos, como também nas visitas que lhe fazia todas as vezes que ia a Paris.
Seu apartamento modesto, sua
permanente curiosidade sobre o
Brasil. A reiteração daquilo que ele
já dissera, que foi justamente aqui
que ele, em suas incursões ao interior, convivendo com os índios,
sentiu despertar a sua vocação de
antropólogo.
No lançamento de meu primeiro
livro na França, "Au delá des Fleuves", ele compareceu à Maison de
la Amérique Latine para prestigiar-me e foi extremamente generoso sobre a obra, me escrevendo:
"Há um meio-século, passei no
Brasil os mais belos anos de minha
vida, e aí deixei uma parte de meu
coração. Mesmo se meus passos
não me conduziram ao Estado do
Maranhão, vivi durante meses no
sertão. Em vosso texto, eu encontrei o sabor, a linguagem cheia de
imagens e, sobretudo, a qualidade
profundamente humana de sua população. Eu amei e admirei vosso
livro". Guardo também com emoção suas palavras elogiosas sobre
os meus três romances.
Visitando-o uma vez, no apartamento do 3º andar do 2, rue des
Marroniers, disse-lhe que mandara fazer um documentário no Senado sobre sua passagem pelo Brasil e sua ligação com nossa terra.
Ele ironicamente respondeu-me:
"Que seja logo, porque não sei se o
verei". Ainda viveu cinco anos, e foi
uma homenagem que muito o sensibilizou. Mandamos uma equipe
entrevistá-lo, chefiada pela doutora Maria Maia. E é um trabalho da
melhor qualidade. Sua generosidade, dizendo na velhice que guardava do Brasil as figuras de Mário de
Andrade, Sérgio Milliet, Paulo
Duarte e José Sarney.
Nosso mundo fica menor sem a
sua presença, mas a aliança do Brasil para com sua obra ficará eterna
nas páginas do clássico "Tristes
Trópicos".
Espero publicar suas cartas destes 20 anos e que hoje são relíquias,
repetindo aquilo que Rilke disse
quando da morte de Rodin: "Todos
os grandes homens já morreram".
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna.
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