|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FERNANDO GABEIRA
Uma loira
RIO DE JANEIRO - Dizem que o
século 20 acabou com a queda do
Muro de Berlim. De um ponto de
vista intelectual, o século 20 está
morrendo também com Claude Lévi-Strauss. Dificilmente os jornais
do século que virá darão tanto destaque à morte de um pensador. Talvez jornais e pensadores não venham a ser abundantes no futuro.
Ele morreu num momento em
que alunos da Uniban se revoltaram por causa de uma jovem loira
de minissaia e quase botaram o prédio abaixo.
No passado, talvez os antropólogos se interessassem por esse curso
de turismo e pelo resto da faculdade. Psicanalistas como Erich
Fromm e Wilhelm Reich e a Escola
de Frankfurt talvez pudessem
achar algum estímulo nessa manifestação raivosa.
Um dos alunos em fúria afirmou
que não queria ter essa mancha no
seu diploma. Foi uma das frases
mais interessantes. A que tipo de
mancha estava se referindo? Ao ver
seu diploma do curso de turismo da
Uniban todos diriam: esta faculdade é aquela em que havia uma loira
de pernas de fora.
No passado, adolescentes manchavam as calças. Supor que, ao longo dos anos, todos continuarão
pensando nas pernas da moça, que
a simples menção do nome Uniban
trará a figura, talvez o próprio perfume da moça, é algo muito forte.
O medo que a imagem de uma loira com as pernas de fora os persiga
ao longo de toda a carreira me faz
lembrar aquela imagem de uma loira perseguindo os sonhos de um puritano no filme de Fellini. Ela tinha
enormes seios e cantava: tome mais
leite, o leite faz bem.
De uma certa forma, a psicanálise
também perdeu terreno. Quem sabe a neurociência não tenha alguma
fórmula para evitar o motim? Ou
Ruy Barbosa com sua "Oração aos
Moços"? Na Uniban, os tempos pedem colagens, não saias audaciosas.
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: Nem tão longe, nem tão perto Próximo Texto: José Sarney: Lévi-Strauss Índice
|