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FERNANDO RODRIGUES
Desenvolvimento e ódio
BRASÍLIA - A eleição de Dilma
Rousseff, primeira mulher e também filha de um imigrante, para o
Palácio do Planalto coincidiu com
um movimento de forte caráter preconceituoso contra nordestinos.
No dia seguinte à vitória da petista, a rede social Twitter foi invadida
por comentários do tipo "mate um
nordestino", "seca eterna pra vocês" ou "Dilma presidente parabéns povo burro".
Houve reação imediata nos
meios de comunicação do Nordeste. O jornal "Correio" da Bahia publicou em sua primeira página a foto da quem teria iniciado a onda
com o título "A paulista". Era um
alerta: a inimiga de São Paulo.
Esse choque de culturas é inevitável em um país tão desigual como
o Brasil. Era menos visível há pouco
tempo por causa do subdesenvolvimento secular.
A afluência das classes emergentes escancarou as diferenças. Basta
viajar de avião. Sempre haverá alguém usando o transporte pela primeira vez. Madames empertigadas
e alguns engravatados exalam incompreensão quando um passageiro mais humilde não localiza seu
assento e atrasa a acomodação de
todos após o embarque.
Shopping centers com alguma
estação de metrô por perto passaram a ter um público diversificado
entre todos os estratos sociais.
Conviver com as diferenças e
aceitar a diversidade é uma obrigação cívica. Sociedades como a brasileira, ao contrário da lenda, são
atrasadas e pouco propensas à tolerância. O desenvolvimento do país
explicita esse traço.
Não é por acaso a xenofobia palpável em São Paulo nos comentários sobre coreanos, bolivianos e
outros imigrantes dedicados ao comércio ou a trabalhos braçais. A cidade, em certos círculos, virou um
poço de intransigência.
O estranhamento piorará com a
ascensão de milhões à classe média. Eis aí um desafio complexo.
Mais difícil do que extirpar a pobreza extrema, como prometeu Dilma.
fernando.rodrigues@grupofolha.com.br
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