São Paulo, terça-feira, 06 de dezembro de 2005

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TENSÃO NA VENEZUELA

Não resta dúvida de que a Venezuela estará melhor no dia em que conseguir se livrar do presidente Hugo Chávez, mas é preciso que o caudilho deixe o poder por força do resultado das urnas, e não por meios estranhos à democracia. Nesse contexto, foi um erro a tentativa da oposição venezuelana de esvaziar o pleito legislativo do domingo com a alegação, sob vários aspectos procedente, de que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) vem favorecendo os candidatos governistas. As conseqüências do afastamento são potencialmente nefastas para as instituições venezuelanas.
Chávez venceria de qualquer forma, como apontavam todos os institutos de pesquisa, mas com a retirada das oposições, o fez de maneira esmagadora. O Movimento Quinta República (MVR), do presidente, obteve 114 das 167 cadeiras da Assembléia Nacional. Todas as demais ficaram com agremiações aliadas.
É verdade que a abstenção de 75% pode fornecer argumentos para a oposição contestar a legitimidade da votação, mas ela não foi muito mais expressiva do que a verificada no último pleito municipal, quando 30% votaram. Já nas eleições presidencial e legislativas de 2000, o comparecimento foi de 57%. O fato é que o protoditador terá agora maioria para reescrever a Constituição conforme suas necessidades e, assim, virtualmente assegurar a reeleição na disputa presidencial do ano que vem.
Materializa-se, portanto, um mau cenário para a Venezuela. De um lado, um líder autoritário cada vez mais livre para continuar torcendo as instituições conforme lhe convenha; de outro, uma oposição que, apostando no impasse, renunciou ao jogo político-partidário, que é o espaço legítimo para a solução de diferenças.
Como nada indica que a cisão a rasgar a sociedade venezuelana irá arrefecer em breve, não será surpresa se setores da oposição mais uma vez lançarem-se numa aventura golpista. Quanto a Chávez, cuja força está diretamente vinculada aos lucros do petróleo e às políticas populistas implementadas com esses recursos, ganhou dos opositores algo que só obteria por meio de um radical ataque às instituições: a supressão das amarras e controles do Legislativo.


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