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TENSÃO NA VENEZUELA
Não resta dúvida de que a Venezuela estará melhor no dia
em que conseguir se livrar do presidente Hugo Chávez, mas é preciso
que o caudilho deixe o poder por força do resultado das urnas, e não por
meios estranhos à democracia. Nesse contexto, foi um erro a tentativa da
oposição venezuelana de esvaziar o
pleito legislativo do domingo com a
alegação, sob vários aspectos procedente, de que o Conselho Nacional
Eleitoral (CNE) vem favorecendo os
candidatos governistas. As conseqüências do afastamento são potencialmente nefastas para as instituições venezuelanas.
Chávez venceria de qualquer forma, como apontavam todos os institutos de pesquisa, mas com a retirada das oposições, o fez de maneira
esmagadora. O Movimento Quinta
República (MVR), do presidente, obteve 114 das 167 cadeiras da Assembléia Nacional. Todas as demais ficaram com agremiações aliadas.
É verdade que a abstenção de 75%
pode fornecer argumentos para a
oposição contestar a legitimidade da
votação, mas ela não foi muito mais
expressiva do que a verificada no último pleito municipal, quando 30%
votaram. Já nas eleições presidencial
e legislativas de 2000, o comparecimento foi de 57%. O fato é que o protoditador terá agora maioria para
reescrever a Constituição conforme
suas necessidades e, assim, virtualmente assegurar a reeleição na disputa presidencial do ano que vem.
Materializa-se, portanto, um mau
cenário para a Venezuela. De um lado, um líder autoritário cada vez
mais livre para continuar torcendo as
instituições conforme lhe convenha;
de outro, uma oposição que, apostando no impasse, renunciou ao jogo
político-partidário, que é o espaço legítimo para a solução de diferenças.
Como nada indica que a cisão a rasgar a sociedade venezuelana irá arrefecer em breve, não será surpresa se
setores da oposição mais uma vez
lançarem-se numa aventura golpista. Quanto a Chávez, cuja força está
diretamente vinculada aos lucros do
petróleo e às políticas populistas implementadas com esses recursos, ganhou dos opositores algo que só obteria por meio de um radical ataque
às instituições: a supressão das
amarras e controles do Legislativo.
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