São Paulo, sábado, 06 de dezembro de 2008

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FERNANDO CANZIAN

Marolinha de Itu

POR MÉRITO DO governo Lula e da recente farra de crédito mundial, que vinha alavancando a economia global como um todo até a atual crise explodir, a classe C no Brasil engloba hoje a maioria da população: 54% dos brasileiros fazem parte dela.
Até o ano passado, eram 46%. No início do governo Lula, um terço.
Por trás dos percentuais, cerca de 41 milhões de brasileiros entraram ou fizeram a travessia para uma vida mais confortável. A maioria embarcou na classe C ao deixar a D/E.
A divisão em classes A/B, C e D/E é comum no mercado e visa apurar o poder aquisitivo. Leva em conta itens de consumo e seu número nos domicílios e apura ainda o grau de instrução do chefe de família. Embora ela não reflita, necessariamente, uma melhora estrutural na vida do entrevistado (ele pode ter duas TVs e um carro e ainda morar em uma favela), a classificação dá uma boa idéia dos níveis de consumo, do pulso da economia e do conforto material.
Infelizmente, é mais do que razoável esperar agora um retrocesso nessa firme e recente migração na direção de uma vida melhor.
Mas uma das "vantagens" dessa crise é que ela parece seguir o mesmo roteiro em todo lugar. Outra, no caso do Brasil, é que, apesar da sua velocidade, seu desenrolar aqui acontece com um certo "delay": vimos ocorrer apenas em novembro aqui o que se deu em outubro nos EUA. Também começamos mais devagar, embora devamos ir igualmente longe em suas entranhas.
O primeiro ato da crise foi o travamento do crédito. Nos EUA, ele representa 140% do PIB. No Brasil, menos de 40%. Mas era o que permitia atravessar a ponte D/E-C com certa velocidade. O segundo ato está em cena: desemprego e cortes na produção e nos investimentos. Os mais atentos assistem à violência com que ele ocorre no palco dos EUA com mexidas cada vez mais nervosas e aflitas sobre suas poltronas brasileiras.
Com atores e cenários distintos, e algumas variações, é bem provável que o roteiro continue avançando de forma parecida para todos. No caso do Brasil, finalmente houve o reconhecimento do governo Lula de que o "tsunami" externo não será apenas uma "marolinha".
Mas, até aqui, o "delay" lulista e dos 70% que o apóiam é ainda maior que o da dinâmica da própria crise.

FERNANDO CANZIAN é repórter especial.



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