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CARLOS HEITOR CONY
O pecado original
RIO DE JANEIRO - Volto hoje ao
assunto de minha última crônica
neste espaço: a interferência do poder financeiro em seus diversos escalões, desde as grandes empresas
multinacionais até o botequim da
esquina que pretende botar mesas e
cadeiras na calçada e precisa de
uma licença das autoridades municipais: todos têm interesse em colaborar nas campanhas eleitorais,
não por afinidade com o programa
partidário das legendas nem com as
ideias do candidato a vereador, mas
simplesmente para ter o político ou
o governante como refém de seus
interesses.
A democracia representativa é a
forma de gerir a sociedade que melhor se aproximou do ponto ótimo
de operação. Contudo, ela se expressa através da vontade da maioria, e essa expressão é aferida pelo
voto. Acontece que voto custa caro,
não adianta a Justiça Eleitoral, daqui e de outros países, deitar regras
tentando disciplinar as doações e
contribuições. Há sempre um caixa
dois e um caixa dois do caixa dois,
formando uma cadeia infernal em
que as responsabilidades são diluídas. Volta e meia, uma bobeada
qualquer no sistema e surge um
mensalão ou escândalo equivalente. Vem então a mídia na base do
"Mata! Esfola!" que coloca determinado partido ou político na berlinda até que venham novos mensalões e escândalos.
Como obscuro observador dos fatos políticos, limito-me a constatar
o óbvio: para obter o voto, que dá legitimidade à democracia representativa, não foi ainda inventada outra fórmula para auferir a "representatividade", a não ser o voto que
custa caro. Este é pecado original, o
nó da questão que desafia sociólogos, filósofos, cientistas políticos
"et caterva" que devem encontrar
um instrumento mais esterilizado
para operar a cirurgia da sociedade.
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