São Paulo, segunda-feira, 06 de dezembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Editoriais

editoriais@uol.com.br

Trem caro

O governo transferiu o leilão do trem-bala para abril do próximo ano. O adiamento oferece uma nova oportunidade de discussão acerca do projeto.
Na medida provisória 511, que normatiza a disputa pela construção e exploração da linha, determina-se uma reserva de até R$ 20 bilhões para financiamento via BNDES e um seguro, de até R$ 5 bilhões, caso a receita gerada pela operação, nos dez primeiros anos, fique abaixo do previsto.
Em tese, a proposta responderia ao quesito de escala, uma vez que unirá São Paulo e Rio de Janeiro, duas regiões com alta densidade populacional e separadas por uma distância considerada boa para a operação. As perspectivas porém são de elevada participação de recursos estatais no empreendimento, que poderia, por exemplo, dispensar o seguro público -uma vez que há instrumentos privados de securitização para obras desse tipo.
Outras críticas pontuais poderiam ser feitas, mas o fundamental é que há alternativas mais eficientes, menos custosas, sem necessidade de tantas benesses do Estado e com impacto social maior do que o trem-bala. Uma possibilidade a ser estudada é o trem expresso, que faz em média 160 km/hora e poderia oferecer passagens a preços mais baixos e custo de construção, em média, 45% menor.
Há na Europa opções como o italiano Pendolino, que não é um trem-bala (que atinge 330 km/hora), mas pode chegar a 250 km/hora. Um mecanismo, baseado num pequeno pêndulo, permite que as composições se inclinem nas curvas, garantindo alta velocidade. Nesse caso, a linha seria mais econômica, pois poderia ser mais sinuosa do que a do trem-bala.
Com a emergência de setores sociais de baixa renda no país, os benefícios sociais de um trem com tarifas acessíveis seriam mais amplos -com a vantagem adicional de estimular a competição com os preços de ônibus e aviões.
O Brasil ainda é um país desigual, que precisa crescer e distribuir oportunidades. Escolher um meio de transporte mais acessível seria técnica, econômica e socialmente mais adequado.


Texto Anterior: Editoriais: Sinais de coordenação
Próximo Texto: São Paulo - Fernando de Barros e Silva: A sorte dos pobres
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.