São Paulo, terça-feira, 07 de janeiro de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

Fim do palanque

BRASÍLIA - Lula e seus ministros vão ao interiorzão do Nordeste "conhecer" a realidade do país: a miséria, a fome, o descaso.
José Viegas (Defesa), por ordens superiores, suspendeu a renovação da frota da FAB sob o pretexto de desviar o dinheiro para o Fome Zero.
Ciro Gomes (Integração) interrompeu todos os contratos para ver se há maracutaia e começar tudo de novo.
Anderson Adauto (Transportes) suspendeu contratos e obras e põe todo mundo para fora, a título de moralização. Os justos pagarão pelos pecadores, avisa. Logo ele, do PL!
Vale tudo para aparecer e ganhar manchetes, ou é só impressão? Os ministros abusam da retórica ou ficam no óbvio, como Benedita da Silva (Assistência Social), que prometeu... combate às desigualdades!
Se alguém foi direto ao ponto, pensando num projeto e não na opinião pública, foi Jaques Wagner (Trabalho). Em vez de frases, propostas; em vez de desafiar o vento, pragmatismo. Não que seja uma maravilha acabar com os 40% sobre o FGTS nas demissões sem justa causa, como ele propõe. Como assalariada, acho um horror. Mas é preciso saber se a proposta, ruim individualmente, pode ser justa coletivamente. A ver.
O mesmo raciocínio vale para a rejeição de Wagner à ampliação do seguro-desemprego de cinco para até seis meses. "Prefiro gastar o dinheiro público em políticas positivas de geração de emprego", justificou, conforme a edição de ontem da Folha.
Nem demagogia, nem retórica, nem obviedade. São idéias jogadas na mesa para discussão, concordância, discordância -e resultado. Wagner começou apanhando, mas está certo. Explicar, pode. Recuar fica feio.
O PT tem obrigação de radicalizar o discurso social. E tem também a responsabilidade de não fazer oba-oba nem fugir dos debates mais duros, porém necessários, escondendo-se nas manchetes fugazes que encantam a opinião pública num dia e são esquecidas no outro.
A lua-de-mel corre solta. A contagem regressiva, também.


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