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ELIANE CANTANHÊDE
Fim do palanque
BRASÍLIA - Lula e seus ministros vão ao interiorzão do Nordeste "conhecer" a realidade do país: a miséria, a
fome, o descaso.
José Viegas (Defesa), por ordens superiores, suspendeu a renovação da
frota da FAB sob o pretexto de desviar o dinheiro para o Fome Zero.
Ciro Gomes (Integração) interrompeu todos os contratos para ver se há
maracutaia e começar tudo de novo.
Anderson Adauto (Transportes)
suspendeu contratos e obras e põe todo mundo para fora, a título de moralização. Os justos pagarão pelos pecadores, avisa. Logo ele, do PL!
Vale tudo para aparecer e ganhar
manchetes, ou é só impressão? Os ministros abusam da retórica ou ficam
no óbvio, como Benedita da Silva
(Assistência Social), que prometeu...
combate às desigualdades!
Se alguém foi direto ao ponto, pensando num projeto e não na opinião
pública, foi Jaques Wagner (Trabalho). Em vez de frases, propostas; em
vez de desafiar o vento, pragmatismo. Não que seja uma maravilha
acabar com os 40% sobre o FGTS nas
demissões sem justa causa, como ele
propõe. Como assalariada, acho um
horror. Mas é preciso saber se a proposta, ruim individualmente, pode
ser justa coletivamente. A ver.
O mesmo raciocínio vale para a rejeição de Wagner à ampliação do seguro-desemprego de cinco para até
seis meses. "Prefiro gastar o dinheiro
público em políticas positivas de geração de emprego", justificou, conforme a edição de ontem da Folha.
Nem demagogia, nem retórica,
nem obviedade. São idéias jogadas
na mesa para discussão, concordância, discordância -e resultado.
Wagner começou apanhando, mas
está certo. Explicar, pode. Recuar fica
feio.
O PT tem obrigação de radicalizar
o discurso social. E tem também a
responsabilidade de não fazer oba-oba nem fugir dos debates mais duros, porém necessários, escondendo-se nas manchetes fugazes que encantam a opinião pública num dia e são
esquecidas no outro.
A lua-de-mel corre solta. A contagem regressiva, também.
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