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PLANEJAMENTO FAMILIAR
É bem-vinda a preocupação da
secretária federal de Políticas
para Mulheres, Emília Fernandes,
com o planejamento familiar. Uma
das formas de reprodução da miséria
está nas altas taxas de fecundidade
das mulheres mais pobres. Desinformados e sem meios de proporcionar
aos filhos melhores condições de alimentação, educação e cidadania, os
pais como que condenam as crianças a repetir o ciclo de miséria.
Como bem disse a ministra Emília
Fernandes: "A paternidade atuante e
consciente precisa ser tema discutido neste país. É impossível que mulheres e homens continuem colocando crianças no mundo para morar
nas ruas debaixo das pontes, [e viver]
na prostituição, nas drogas".
É bom lembrar, entretanto, que o
quadro descrito -bastante realista- poderia ter contornos bem menos dramáticos se os governos cumprissem melhor suas tarefas e oferecessem melhores condições.
Posto isso, a idéia da ministra de
incluir o planejamento familiar entre
as contrapartidas exigidas dos beneficiados pelo programa Bolsa-Família merece ser debatida. À primeira
vista, ela pode fazer sentido -mas é
aconselhável atentar para os obstáculos. A primeira dificuldade é, num
ambiente democrático, exigir que casais que necessitem de auxílio não tenham filhos ou que os tenham em
um número arbitrado pelo governo
de acordo com o que ele consideraria
aceitável -sem o que cassaria o direito a benefícios que já são diminutos, emergenciais e compensatórios.
O ideal num Estado de Direito é que a
adesão ao planejamento familiar seja
totalmente voluntária. Isso não significa que o governo deva cruza os
braços. Precisa, sim, promover campanhas de esclarecimento e poderia
exigir dos beneficiados a presença
em cursos a serem promovidos a respeito do tema -o que é diferente de
deixar o miserável que tiver mais filhos do que o desejável fora do programa de renda mínima.
A melhor e mais democrática forma de lidar com o crescimento populacional é proporcionar educação.
O Bolsa-Família, ao colocar os mais
pobres em contato com o poder público, cria uma boa oportunidade de
atuação. Ela deve ser usada para que
os casais -notadamente as mulheres- recebam esclarecimentos e
acesso aos meios. Assim poderão
decidir eles mesmos planejar famílias menores.
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