São Paulo, quarta-feira, 07 de janeiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A LEI AFEGÃ

O duplo atentado terrorista na cidade afegã de Kandahar, ocorrido ontem, um dia depois da aprovação de uma nova Constituição para o país, é uma sombria amostra dos desafios que ali persistem.
Antes de o Afeganistão tornar-se a democracia que alguns já se apressam em pintar, o país terá de resolver as profundas divisões que tornam o governo central pouco mais do que uma ficção política. O problema não é apenas o Talebã, a milícia islâmica radical que governava até a invasão norte-americana em 2001, principal suspeito do atentado de ontem, que matou pelo menos 17 pessoas e feriu dezenas. As desavenças estão no seio do próprio governo do presidente Hamid Karzai.
Como o poder foi loteado entre as principais forças que contribuíram para a derrubada do Talebã, há ministros que estão literalmente em guerra uns com os outros. Entre os principais senhores da guerra afegãos estão várias figuras de relevo no governo. É o caso do tadjique Mohammad Qasim Fahim, cujas milícias controlam o nordeste do país. Fahim é vice-presidente e ministro da Defesa. Outro exemplo é o do hazara Mohammed Mohaqik, que controla a região central. Mohaqik é o ministro do Planejamento.
Apesar das dificuldades, seria injusto não reconhecer a nova Constituição como um avanço. Entre outras inovações democráticas, ela estabelece a igualdade entre homens e mulheres e reserva cadeiras para elas nas assembléias provinciais. O contraste é forte quando se considera a situação sob o Talebã, quando as mulheres eram proibidas até de estudar ou de sair desacompanhadas.
Seja como for, há um longo caminho até que se consiga colocar em prática o que está no papel, se é que isso um dia será possível.


Texto Anterior: Editoriais: BRASIL PARA EXPORTAÇÃO
Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: FHC, Lula e projetos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.