|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
A LEI AFEGÃ
O duplo atentado terrorista na
cidade afegã de Kandahar,
ocorrido ontem, um dia depois da
aprovação de uma nova Constituição
para o país, é uma sombria amostra
dos desafios que ali persistem.
Antes de o Afeganistão tornar-se a
democracia que alguns já se apressam em pintar, o país terá de resolver
as profundas divisões que tornam o
governo central pouco mais do que
uma ficção política. O problema não
é apenas o Talebã, a milícia islâmica
radical que governava até a invasão
norte-americana em 2001, principal
suspeito do atentado de ontem, que
matou pelo menos 17 pessoas e feriu
dezenas. As desavenças estão no seio
do próprio governo do presidente
Hamid Karzai.
Como o poder foi loteado entre as
principais forças que contribuíram
para a derrubada do Talebã, há ministros que estão literalmente em
guerra uns com os outros. Entre os
principais senhores da guerra afegãos estão várias figuras de relevo no
governo. É o caso do tadjique Mohammad Qasim Fahim, cujas milícias controlam o nordeste do país.
Fahim é vice-presidente e ministro
da Defesa. Outro exemplo é o do hazara Mohammed Mohaqik, que controla a região central. Mohaqik é o
ministro do Planejamento.
Apesar das dificuldades, seria injusto não reconhecer a nova Constituição como um avanço. Entre outras inovações democráticas, ela estabelece a igualdade entre homens e
mulheres e reserva cadeiras para elas
nas assembléias provinciais. O contraste é forte quando se considera a
situação sob o Talebã, quando as
mulheres eram proibidas até de estudar ou de sair desacompanhadas.
Seja como for, há um longo caminho até que se consiga colocar em
prática o que está no papel, se é que
isso um dia será possível.
Texto Anterior: Editoriais: BRASIL PARA EXPORTAÇÃO Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: FHC, Lula e projetos Índice
|