São Paulo, segunda-feira, 07 de janeiro de 2008

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Tempo precioso para a educação

MILÚ VILLELA


É impossível ignorar que os desafios são tão vultosos quanto as forças que se movimentam em favor das mudanças na educação


ENTRAMOS EM 2008 com a convicção de que nunca o Brasil viveu um momento tão propício para transformações profundas na educação pública do país.
Uma convicção também expressa, de forma quase unânime, por gestores públicos de educação -de diferentes esferas governamentais e partidos políticos-, lideranças sociais, educadores e empresários.
Vivemos na educação um momento histórico de mudança de paradigma. Sabemos que o ensino, a exemplo do que acontece em tantos outros setores, deve trabalhar na perseguição de resultados específicos e mensuráveis; sabe-se a importância de investir mais e, ao mesmo tempo, reconhece-se que a gestão adequada dos recursos -financeiros, físicos e humanos- é fundamental para qualquer sistema escolar; conta-se com sistemas de avaliação, que, embora possam ser aperfeiçoados, já oferecem uma radiografia relevante da situação das escolas brasileiras; e a urgência da educação como meio para o desenvolvimento, com justiça social, está estampada nas páginas dos jornais.
Esse consenso é reforçado pelas conquistas alcançadas ao longo de 2007. Entre elas, a criação do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica); o lançamento do PDE (Plano de Desenvolvimento da Educação), proposto pelo Ministério da Educação para ser um projeto de nação, e não apenas de um governo com quatro anos de mandato; a mobilização em torno do fim da DRU (Desvinculação de Recursos da União) para a educação; e o debate crescente sobre a situação do ensino público na mídia.
No entanto, é impossível ignorar que os desafios são tão vultosos quanto as forças que se movimentam em favor das mudanças na educação. O salto de qualidade que se busca no ensino brasileiro é absolutamente inédito, seja em tamanho (obter um nível de qualidade que a escola pública nunca experimentou), seja em características (uma transformação apoiada em resultados específicos e mensuráveis), seja em velocidade.
Afinal, são apenas 15 anos até 2022, quando deverão ser alcançadas as cinco metas do Compromisso Todos Pela Educação: toda criança e jovem de quatro a 17 anos na escola; toda criança plenamente alfabetizada até os oito anos; todo aluno com aprendizado adequado à sua série; todo aluno com o ensino médio concluído até os 19 anos; investimento em educação ampliado e bem gerido.
Não bastasse tudo isso, partimos de uma situação crítica quando comparada aos padrões internacionais, como, mais uma vez, demonstraram os resultados recentemente divulgados do Pisa. Está claro que vivemos na educação, ao mesmo tempo, o melhor dos tempos e o pior dos tempos.
Acima de tudo, é generalizado o sentimento de que, se o Brasil perder esse momento positivo de disposição para a mudança, não só deixará de avançar na medida que precisa. Experimentará, isso sim, um retrocesso. Ficará claro então que os desafios são maiores do que a mobilização dos diferentes setores da sociedade.
A velocidade do desenvolvimento da sociedade do conhecimento que se forma no mundo deixará o país irremediavelmente para trás. Demorará muito até que se possa observar a confluência dos dias de hoje de pessoas, instituições, idéias e iniciativas.
E tempo é artigo de luxo para crianças e jovens aos quais se nega, diariamente, o direito ao conhecimento necessário para um futuro digno. Entre o momento que a todos anima em relação à possibilidade de conquista de uma educação de qualidade e a situação atual do sistema de ensino, que explicita quão difícil será o caminho até os objetivos desejados, cria-se uma tensão que deve resultar em energia positiva e impulsionadora. A ninguém são permitidos o desânimo ou a omissão; é o futuro das novas gerações que está em jogo.
O objetivo que se impõe ante todos que detêm alguma parcela do poder político e econômico, por menor que seja, de cada pai e mãe, de cada eleitor, é o da educação de qualidade.
É hora, uma vez mais, de decidir qual será seu destino. Está nas mãos de todos nós a conquista de um Brasil verdadeiramente independente, em que cada cidadão possa desenvolver plenamente seu potencial. Sabemos que o caminho é longo, mas que, em 2008, possamos dar passos importantes, na direção correta e com a velocidade que se exige. Não há tempo a perder. Todos pela educação!


MILÚ VILLELA , 61, é presidente do Faça Parte - Instituto Brasil Voluntário, embaixadora da Boa Vontade da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e membro fundador e coordenadora do Comitê de Articulação do Compromisso Todos pela Educação, além de presidente do MAM (Museu de Arte Moderna) e do Instituto Itaú Cultural.

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