São Paulo, quarta-feira, 07 de janeiro de 2009

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RUY CASTRO

Zico e Roberto

RIO DE JANEIRO - Foram duas horas de amor intenso -dado e correspondido. Na noite do último sábado, Zico, ex-Flamengo, e Roberto Dinamite, ex-Vasco da Gama (e novo presidente do clube), gravaram as mãos em cimento na "calçada da fama" da livraria Toca do Vinicius, em Ipanema. Os dois são famosos. Mas não foi isso que encheu a rua.
Desde que o príncipe regente dom João aportou por aqui, há 200 anos, o Rio se habituou às celebridades. Certa vez, andei com Julio Iglesias por Copacabana e ninguém lhe deu pelota. Tom Jobim sentava-se diariamente à mesa de uma churrascaria, ao alcance de qualquer transeunte, e nunca foi incomodado. E já vi Chico Buarque empurrando um carrinho de bebê com sua neta, pelo calçadão do Leblon, sob geral indiferença.
Mas o futebol é especial. Revolve emoções, define a nossa identidade, nos torna melhores ou piores. Pois mais de mil pessoas se aglomeraram defronte à Toca, sob chuva fina, para abraçar e beijar Zico e Roberto, serem fotografadas com eles, ter suas camisas assinadas e dizer-lhes o quanto, até hoje, eles representam em suas vidas. De onde estava, ouvi bem o que elas diziam. Foi um banho de amor e gratidão.
Em certo momento, achei que a coisa fosse desandar. Eram muitas mãos e bocas para apenas dois heróis. Mas eles, como heróis, deram conta do recado. Todos que os abraçaram (e eram torcedores de vários times, inclusive de fora do Rio) sentiram-se abraçados de volta.
Foi uma noite bonita, como tantas aqui, e que nenhum grande jornal ou revista cobriu -na hora, as redações deviam estar atentas a um possível tiroteio no morro dos Macacos ou em qualquer outro. Há um tedioso automatismo quando se trata do noticiário sobre o Rio: é preciso privilegiar a má notícia. Mas as coisas boas, de teimosas, insistem em acontecer.


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