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RUY CASTRO
Zico e Roberto
RIO DE JANEIRO - Foram duas
horas de amor intenso -dado e correspondido. Na noite do último sábado, Zico, ex-Flamengo, e Roberto
Dinamite, ex-Vasco da Gama (e novo presidente do clube), gravaram
as mãos em cimento na "calçada da
fama" da livraria Toca do Vinicius,
em Ipanema. Os dois são famosos.
Mas não foi isso que encheu a rua.
Desde que o príncipe regente
dom João aportou por aqui, há 200
anos, o Rio se habituou às celebridades. Certa vez, andei com Julio
Iglesias por Copacabana e ninguém
lhe deu pelota. Tom Jobim sentava-se diariamente à mesa de uma churrascaria, ao alcance de qualquer
transeunte, e nunca foi incomodado. E já vi Chico Buarque empurrando um carrinho de bebê com sua
neta, pelo calçadão do Leblon, sob
geral indiferença.
Mas o futebol é especial. Revolve
emoções, define a nossa identidade,
nos torna melhores ou piores. Pois
mais de mil pessoas se aglomeraram defronte à Toca, sob chuva fina, para abraçar e beijar Zico e Roberto, serem fotografadas com eles,
ter suas camisas assinadas e dizer-lhes o quanto, até hoje, eles representam em suas vidas. De onde estava, ouvi bem o que elas diziam.
Foi um banho de amor e gratidão.
Em certo momento, achei que a
coisa fosse desandar. Eram muitas
mãos e bocas para apenas dois heróis. Mas eles, como heróis, deram
conta do recado. Todos que os abraçaram (e eram torcedores de vários
times, inclusive de fora do Rio) sentiram-se abraçados de volta.
Foi uma noite bonita, como tantas aqui, e que nenhum grande jornal ou revista cobriu -na hora, as
redações deviam estar atentas a um
possível tiroteio no morro dos Macacos ou em qualquer outro. Há um
tedioso automatismo quando se
trata do noticiário sobre o Rio: é
preciso privilegiar a má notícia.
Mas as coisas boas, de teimosas, insistem em acontecer.
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