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FERNANDO RODRIGUES
A política como ela é
BRASÍLIA - A cada dois anos repete-se, em janeiro, uma novela manjada. Políticos se digladiam na disputa para presidir a Câmara e o Senado pelo biênio seguinte.
É raro, mas às vezes surge alguma
novidade. Desta vez, a tentativa de
ser o "fator diferencial" veio de Tião
Viana, candidato a presidir o Senado -e eleito pelo PT do Acre.
O petista conseguiu produzir
uma carta-compromisso com 1.527
palavras sem fazer uma única promessa concreta. Eclético, misturou
Lei Áurea, Juscelino Kubitschek,
Tancredo Neves e Antonio Carlos
Magalhães. No trecho obrigatório
"vou-agradar-a-oposição", transbordou ambivalência ao mencionar
sua posição a respeito do uso indecente de medidas provisórias pelo
Poder Executivo:
"Enfatizo minha posição contrária à (...) gana legiferante do Executivo, de que o excesso de medidas
provisórias seria a perfeita ilustração, prática que subverte terrivelmente a agenda legislativa".
E daí? Daí, noves fora, nada. Não
ajuda muito considerar uma perfídia as MPs baixadas por Lula. O importante é alterar o sistema. Mas o
tom melífluo de Tião Viana esclarece sua intenção a respeito. Ele afirma estar "convencido de que há saídas para o problema" e que vai "debatê-las com os colegas".
Em resumo, se vencer e vier a se
sentar na cadeira de couro tingido
de azul da presidência do Senado,
Tião Viana já tem uma desculpa.
Depois de alguns meses de inação,
será indagado por que não cumpre
a promessa de alterar a regra das
MPs. Responderá: "Eu tentei, mas
meus colegas não quiseram".
O mais estapafúrdio nessa história é a empreitada de Tião Viana estar sendo, em grande parte, apoiada
por senadores de oposição. PSDB e
DEM não têm candidato próprio.
Acreditam ou fingem acreditar na
promessa vaga do petista Viana
contra o petista Lula. É difícil saber
quem engana quem.
frodriguesbsb@uol.com.br
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