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Mudança de estratégia
Banco Central anuncia medida contra especulação com real valorizado e sugere que uso do câmbio para conter inflação deve recuar
Variações da taxa de câmbio geram benefícios e desvantagens para diferentes setores e podem ser
utilizadas, de maneira aberta ou
dissimulada, como instrumento
de política econômica. Quando o
real, por exemplo, perde valor em
relação ao dólar, cria-se um estímulo às exportações e aumenta-se
a proteção à indústria nacional;
quando, ao contrário, a moeda se
valoriza, são as importações que
recebem incentivo.
Ao mesmo tempo, se uma forte
valorização é fator de preocupação quanto às contas externas, pode ser útil para conter aumentos
da taxa de inflação.
Desde a crise de 2008 vive-se
em todo o mundo uma onda de intervenções de governos em defesa
das economias nacionais. Nesse
"salve-se quem puder", a questão
cambial passou a ocupar lugar
destacado. Países desenvolvidos,
como os EUA, desvalorizam intencionalmente suas moedas. Ao
mesmo tempo, capitais internacionais buscam oportunidades
em nações emergentes, como o
Brasil, que oferecem juros altos e
boas perspectivas.
Uma enxurrada de dólares tem
se dirigido ao país, incentivando
uma significativa valorização do
real -também alimentada por investidores que veem nesse movimento uma chance de lucro. Bancos compram dólares no exterior
para realizar operações baseadas
na expectativa de que o real continuará valorizado no futuro.
Embora o governo Lula tenha
denunciado de maneira ruidosa
essa "guerra cambial", a moeda
brasileira continuou se valorizando muito além da média mundial
-cerca de 16% em termos reais
(descontada a inflação) em 2010,
contra 7,3% na América Latina e
apenas 4% nos países em desenvolvimento da Ásia.
O fenômeno na realidade decorre não apenas do peso do contexto
internacional. Há também o interesse velado das autoridades econômicas de usar a situação, mesmo que transitoriamente, para
conter pressões inflacionárias advindas do excesso de gastos públicos e da expansão do crédito. Tal
estratégia, no entanto, passou do
ponto e já anuncia prejuízos.
Depois das recentes medidas
para conter as compras no crediário, surge agora mais um sinal de
que o aproveitamento da "âncora
cambial" para segurar a inflação
deverá aos poucos ser abandonado. O Banco Central anunciou ontem a criação de depósito compulsório a ser realizado pelos bancos
em operações que especulam com
a desvalorização do dólar no futuro. Segundo o BC, tais apostas já
chegaram a US$ 17 bilhões -valor
visto como "superdimensionado"
pelo presidente da instituição,
Alexandre Tombini.
A decisão é acertada. Combate a
especulação sem prejudicar investimentos de longo prazo. Sugere, também, que BC e Fazenda devem adotar medidas de contenção
de despesas e moderação do crescimento com mais sintonia do que
se viu no governo anterior.
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