São Paulo, sexta-feira, 07 de janeiro de 2011

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Mudança de estratégia

Banco Central anuncia medida contra especulação com real valorizado e sugere que uso do câmbio para conter inflação deve recuar

Variações da taxa de câmbio geram benefícios e desvantagens para diferentes setores e podem ser utilizadas, de maneira aberta ou dissimulada, como instrumento de política econômica. Quando o real, por exemplo, perde valor em relação ao dólar, cria-se um estímulo às exportações e aumenta-se a proteção à indústria nacional; quando, ao contrário, a moeda se valoriza, são as importações que recebem incentivo.
Ao mesmo tempo, se uma forte valorização é fator de preocupação quanto às contas externas, pode ser útil para conter aumentos da taxa de inflação.
Desde a crise de 2008 vive-se em todo o mundo uma onda de intervenções de governos em defesa das economias nacionais. Nesse "salve-se quem puder", a questão cambial passou a ocupar lugar destacado. Países desenvolvidos, como os EUA, desvalorizam intencionalmente suas moedas. Ao mesmo tempo, capitais internacionais buscam oportunidades em nações emergentes, como o Brasil, que oferecem juros altos e boas perspectivas.
Uma enxurrada de dólares tem se dirigido ao país, incentivando uma significativa valorização do real -também alimentada por investidores que veem nesse movimento uma chance de lucro. Bancos compram dólares no exterior para realizar operações baseadas na expectativa de que o real continuará valorizado no futuro.
Embora o governo Lula tenha denunciado de maneira ruidosa essa "guerra cambial", a moeda brasileira continuou se valorizando muito além da média mundial -cerca de 16% em termos reais (descontada a inflação) em 2010, contra 7,3% na América Latina e apenas 4% nos países em desenvolvimento da Ásia.
O fenômeno na realidade decorre não apenas do peso do contexto internacional. Há também o interesse velado das autoridades econômicas de usar a situação, mesmo que transitoriamente, para conter pressões inflacionárias advindas do excesso de gastos públicos e da expansão do crédito. Tal estratégia, no entanto, passou do ponto e já anuncia prejuízos.
Depois das recentes medidas para conter as compras no crediário, surge agora mais um sinal de que o aproveitamento da "âncora cambial" para segurar a inflação deverá aos poucos ser abandonado. O Banco Central anunciou ontem a criação de depósito compulsório a ser realizado pelos bancos em operações que especulam com a desvalorização do dólar no futuro. Segundo o BC, tais apostas já chegaram a US$ 17 bilhões -valor visto como "superdimensionado" pelo presidente da instituição, Alexandre Tombini.
A decisão é acertada. Combate a especulação sem prejudicar investimentos de longo prazo. Sugere, também, que BC e Fazenda devem adotar medidas de contenção de despesas e moderação do crescimento com mais sintonia do que se viu no governo anterior.


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